A difícil questão de Angra 3

O ILUMINA foi consultado por uma das jornalistas da reportagem. Entretanto, não sabemos porque, nossa opinião não foi mencionada.



A questão Angra 3 é uma das mais complicadas do setor elétrico brasileiro. Em primeiro lugar, não se pode comparar o caso de Angra 3 com a decisão de construir uma nova usina nuclear. Cerca de 1/3 dos investimentos jáforam realizados. Enquanto decidir por uma Nuclear nova implica em dispor de US$2000/kW, decidir pela construção de Angra 3 é decidir sobre a necessidade adicional de U$ 1600/kW. Dada a possibilidade de que a demanda de energia passe a crescer 5% ou mais ao ano, o ILUMINA pensa que não se deve dispensar uma fonte do porte da usina Angra 3 sem fazer umaampla análise. Dito de outro modo, para desistir de Angra 3 é necessário poder contar com usinas que somem a energia equivalente a que Angra gera. Esse tipo de usinaé capaz de operar com fator de capacidade 80% e custo operacional baixo. A uma potência de 1300 MW, isso significa aproximadamente 10TWh anuais. Hidroelétricas, para gerar tal energia precisam somar 1900 MW de potência. Serão mais baratas, mas levam 5 anos para serem construídas. Além disso, sob o ponto de vista elétrico, uma usina desse porte próxima ao centro de consumo alivia o carregamento de linhas aumentando a confiabilidade elétrica do sistema.



Evidentemente, nessa ligeira análise, estamos apenas mencionando as vantagens e desvantagens sob o ponto de vista do setor elétrico. Há uma dimensão ambiental, estratégica e de política nuclear, que o governo precisa ponderar para decidir,não tocada aqui.







Governo deve concluir a polêmica Angra 3 (Globo 26/09/04)


Mônica Tavares



BRASÍLIA. Está praticamente acertada pelo governo a retomada da construção da usina nuclear de Angra 3. A avaliação é de um integrante do grupo interministerial que analisa a viabilidade da usina. O grupo deve concluir os estudos até dezembro. O grande problema é a fonte de recursos para a obra, orçada em R$ 7,5 bilhões.



O financiamento terá que ser majoritariamente externo e já há instituições financeiras da França interessadas, de acordo com a fonte. O BNDES também deve participar, como avalista da Eletrobrás, responsável pelas obras. Assessores da Casa Civil confirmam que a vontade do governo é terminar o projeto. A decisão deve ser tomada no máximo no início de 2005. A usina ficaria pronta de cinco anos e meio a seis anos depois.



O secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Maurício Tolmasquim, disse que a decisão será do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Para isso, foi criado o grupo que estuda a viabilidade da usina. Segundo fontes do governo, outro problema é o custo da energia a ser produzida, devido ao valor salgado da obra.



Um dos principais argumentos favoráveis é que em 2010, mesmo que todas as hidrelétricas planejadas sejam feitas, o país terá um déficit de energia de 2.500 megawatts (MW), e seria necessário construir várias termelétricas. Angra 3 sozinha terá capacidade de 1.300 MW — semelhante à de Angra 2, uma das usinas nucleares mais eficientes do mundo.



Ministro sinaliza aposta nuclear



Embora uma termelétrica movida a gás natural normalmente tenha um custo menor do que uma nuclear, o caso de Angra 3 é diferente. O governo já investiu US$ 750 milhões (em valores atuais, R$ 2,15 bilhões) em equipamentos e no início das obras civis.



Outra vantagem, segundo o técnico, é que Angra 3 ficará perto das grandes linhas de transmissão do Sudeste e dos centros consumidores mais importantes do país. Quanto ao impacto ambiental, a avaliação é que este problema está quase solucionado, porque a usina será construída na área de Angra 1 e 2, que já têm licença.



Além disso, o comitê estaria concluindo que a usina que pode conseguir licenciamento ambiental mais facilmente é a nuclear, já que a eólica não é viável em grande escala.



O ministro de Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, disse, em discurso na quarta-feira em Viena (Áustria), durante a 48 Conferência Geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que a matriz energética brasileira precisa ser diversificada:



— A energia de fonte nuclear tem papel assegurado, sendo concretas as possibilidades de ampliação de sua participação na matriz energética do país.



Também existe no governo quem considere Angra 3 fundamental para viabilizar o Programa Nuclear Brasileiro. O país já conta com a sexta maior reserva de urânio do mundo, e apenas 25% do território nacional foram mapeados. A expectativa é que o Brasil se torne o terceiro do mundo em reservas de urânio. Com reservas e a possibilidade de aumentar a produção de urânio enriquecido quando a unidade de Resende (RJ) entrar em funcionamento, o país poderá atender a toda a demanda interna do produto. Hoje, 60% do urânio utilizados por Angra 1 e 2 são importados.



Fortes argumentos para quem defende e ataca


Ramona Ordoñez e Maria Fernanda Delmas



Construir ou não Angra 3 é uma decisão mais do que complicada. Os argumentos de quem é a favor são fortes: geração de empregos, energia mais limpa, viabilização comercial do projeto nuclear do país, aproveitamento de equipamentos comprados. Mas os protestos também são convincentes: por mais improvável que seja, nunca é descartado o risco de um grande acidente, e é preciso um plano bem elaborado para evacuar a região.



O governo tem muitas questões a considerar. A construção de uma usina nuclear é uma opção mais cara do que uma hidrelétrica ou uma termelétrica a gás. Por outro lado, o combustível nuclear é mais barato que o gás, e a água é de graça. O governo precisa decidir qual será o papel das termelétricas, movidas a gás ou a combustível nuclear, no sistema energético do país. Outro ponto é como armazenar o lixo atômico.



Para o especialista Afonso Henriques, ex-secretário do Ministério de Minas e Energia, não existe qualquer argumento econômico que justifique construir Angra 3:



— Para saber se um projeto é viável é preciso saber quanto vai custar e o seu retorno, e a nuclear é bem mais cara do que a usina a gás — afirma.



O físico Luiz Pinguelli, ex-presidente da Eletrobrás e professor da Coppe/UFRJ, diz que um grave problema é a receita da Eletronuclear, que opera Angra 1 e Angra 2. A empresa espera reajuste em suas tarifas. Enquanto isso, deve ter prejuízo de R$ 400 milhões este ano.



— Como construir Angra 3, se a Eletronuclear não tem recursos para pagar as outras duas? — pergunta Pinguelli, ressaltando que a participação de recursos privados é fundamental para a obra.



A obra geraria cerca de cinco mil empregos diretos e 15 mil indiretos. Edson Kuramoto, diretor da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben) — que faz parte do Fórum Pró-Angra 3, um grupo que reúne da Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan) ao governo do estado e o Clube de Engenharia — acrescenta que já há no local subestação e linhas de transmissão.



Questão do lixo nuclear ainda não foi resolvida



O deputado estadual Carlos Minc (PT-RJ), que é contra a construção de Angra 3, diz que 70% dos equipamentos armazenados podem ser aproveitados em termelétricas movidas a gás, dado contestado por outros especialistas.



Minc alerta que o lixo atômico pode durar até 40 mil anos na natureza e que não há um plano de escoamento na região. O deputado lembra que em 18 anos houve 34 pequenos e médios acidentes e incidentes em Angra 1, como vazamento de água e defeito no gerador de vapor.



Manutenção de peças já custou R$ 900 milhões


Ramona Ordoñez



Cerca de 50 operários fazem um trabalho semelhante ao de Penélope, que na mitologia grega tecia um tapete de dia e o desmanchava à noite, à espera de Ulisses. Esses trabalhadores da Eletronuclear, empresa responsável pela operação das usinas nucleares de Angra, freqüentemente desembalam os componentes mais sensíveis comprados para Angra 3, como medidores de umidade, para inspecioná-los e empacotá-los novamente.



São cerca de dez mil toneladas de equipamentos comprados da Alemanha, que chegaram ao Brasil a partir de 1986. Eles estão guardados em 24 galpões no complexo onde funcionam Angra 1 e Angra 2, em Angra dos Reis, no litoral sul do Estado do Rio, e na Nuclep, em Itaguaí.



Segundo o diretor de Operações da Eletronuclear, Pedro Figueiredo, foram gastos cerca de US$ 750 milhões na compra desses equipamentos. Mas a manutenção das peças já levou mais cerca de R$ 900 milhões em 18 anos, ou R$ 50 milhões por ano.



Equipamentos parecem que acabaram de ser fabricados



No complexo de Angra pode ser visto o local das escavações para abrigar Angra 3, perto das outras centrais. Na verdade, o que se vê é um buraco cheio de água da chuva, em vez de uma usina capaz de abastecer uma cidade de 6 milhões de habitantes, como o Rio.



O chefe de obras da Eletronuclear, José Eduardo Costa, explica que os componentes não estão obsoletos, porque são tubulações e conjuntos de geradores de vapor, entre outros.



— Esta bomba é de 1983 e parece que foi fabricada agora — diz, mostrando uma bomba que foi aberta para inspeção.





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