À espera da lama da Vale, Retiro Baixo reduz lago – Valor

Análise do ILUMINA: Uma conta rápida adiciona outros prejuízos que escorreram da barbeiragem da Vale para o setor elétrico. Como se sabe a usina de Candonga está inativa desde 2015 por conta da barbeiragem de Mariana. Com grande probabilidade, a usina de Retiro Baixo vai pelo mesmo caminho. Elas totalizam 140 MW e 82 MW. Assumindo um valor de R$ 120/MWh, cerca de R$ 116 milhões/ano somem do faturamento do setor.

Não é só isso! As usinas hidroelétricas participam de uma espécie de condomínio chamado MRE. Por deficiências de modelagem que, ao que parece, não serão enfrentadas, esse tema está levando a déficits bilionários no condomínio das hidroelétricas. A barbeiragem vai piorar a situação.

Não é só isso! Quem vai substituir essas gerações? Outras hidráulicas? Menor reserva. Usinas térmicas? Maior tarifa.

Não é só isso! Ainda não se sabe o efeito dos elementos químicos dissolvidos na água sobre as turbinas das usinas.

Independente da pequena proporção dessas duas usinas, o foco desse comentário é chamar atenção do efeito devastador que ultrapassa em muito as regiões afetadas.


Rodrigo Polito e Daniella Chiarreti

A hidrelétrica de Retiro Baixo, localizada no rio Paraopeba, a 220 km da barragem da Vale que se rompeu em Brumadinho (MG), e que havia interrompido a operação para preservar seus equipamentos, foi acionada novamente ontem por ordem do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O objetivo da medida foi manter em nível baixo o reservatório da usina que poderá receber na próxima semana a lama de rejeitos oriunda da barragem rompida e novamente interromper a operação. Outra preocupação é com relação à hidrelétrica de Três Marias, primeira do rio São Francisco e cuja capacidade instalada é quase cinco vezes maior que a de Retiro Baixo.

Na última semana, a Agência Nacional de Águas (ANA) havia informado que Retiro Baixo possibilitará o amortecimento da onda de rejeitos de Brumadinho. Um fator importante para isso, entretanto, é a adoção de medidas operativas que visem a contenção da lama.

Na última terça-feira, boletim do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), ligado à Secretaria Estadual de Meio Ambiente, dizia que a lama, antes de seguir pela calha do rio Paraopeba, havia se espalhado por 290 hectares, o que equivale a 300 campos de futebol. O boletim diário do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e da ANA indicava que a pluma de sedimentos estava se dispersando na trajetória.

Os técnicos avisavam que não conseguiam prever quando os rejeitos chegariam ao reservatório da hidrelétrica de Retiro de Baixo porque a velocidade havia se reduzido muito. Os especialistas sabem que os rejeitos chegaram a 98 km adiante da barragem, mas a partir daí a sujeira está diluída.

A primeira impressão, contudo, era outra. No boletim de monitoramento das águas do rio Paraopeba da segunda à noite, a estimativa era que as águas turvas chegassem a Retiro Baixo entre os dia 5 e 10 de fevereiro. Esta previsão não tem sido mais feita nos boletins porque não está claro, para os técnicos, se a pluma irá chegar à hidrelétrica ou irá se distribuir no caminho.

A tragédia em Brumadinho ainda demanda atenção para a hidrelétrica de Três Marias, da Cemig, situada a 8 km de Retiro Baixo. Com 396 megawatts (MW) de capacidade, a usina é a primeira do rio São Francisco, onde deságua o Paraopeba. Além disso, o lago de Três Marias é utilizado também para atividades turísticas. Na última semana, a avaliação da Cemig, porém, era de que o impacto seria pequeno.

Segundo técnicos que acompanham o assunto ouvidos pelo Valor, ainda é prematuro afirmar se a lama chegará, ou não, à Três Marias. O fato é que a lama está ficando cada vez mais densa e com uma velocidade menor, o que diminui o risco de pacto após Retiro Baixo. Outro fator determinante que precisa ser acompanhado de perto é a ocorrência de chuvas, que, a depender do volume, podem dar mais velocidade à lama de rejeitos.

A Fundação SOS Mata Atlântica está com uma equipe recolhendo amostras de qualidade da água ao longo de 300 km de rio. “Nos primeiros 45 quilômetros, o Paraopeba está completamente morto, não dá nem para chamar de água o que coletamos”, disse Malu Ribeiro, coordenadora do Programa Água da SOS Mata Atlântica.

Até o momento, não há uma definição sobre um possível ressarcimento, em âmbito judicial, a ser pago pela Vale pela energia que pode deixar de ser produzida e por eventuais danos estruturais à usina de Retiro Baixo, que pertence à Retiro Baixo Energética, consórcio formado por Cemig (49,9%), Furnas (49%) e Orteng (1,1%).

No âmbito do setor elétrico, a empresa tem como se proteger. Como os contratos da usina são basicamente no mercado regulado, o consórcio pode alegar à Aneel motivo de força maior por não produzir a energia prevista. As distribuidoras, então, poderão adquirir a energia equivalente no mercado de curto prazo e repassar o preço ao consumidor, no reajuste tarifário. Retiro Baixo também pode ser coberta pelo Mecanismo de Realocação de Energia (MRE), uma espécie de clube das hidrelétricas.

Questionada sobre um potencial pedido de ressarcimento, a Retiro Baixo Energética informou que não trata do assunto neste momento e que está concentrada nas medidas de contenção da lama. “Os técnicos da empresa estão monitorando o deslocamento e a densidade dos resíduos e calculando os diversos cenários possíveis da chegada desse material à barragem da usina”, afirmou, em nota, a empresa, garantindo não haver risco estrutural para a barragem.

Com 82 MW de capacidade, Retiro Baixo tem contrato de concessão até 2035. Do total de energia firme, de 38,5 MW médios, a usina negociou em leilão, em 2005, 36 MW médios ao preço da época de R$ 115,36/MWh.

A situação de Retiro Baixo foi experimentada pela hidrelétrica Risoleta Neves, também conhecida como Candonga, de 140 MW, há pouco mais de três anos. A usina, situada no rio Doce e que pertence à própria Vale e à Aliança Geração de Energia (joint venture entre a mineradora e a Cemig) foi atingida pelos rejeitos da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em novembro de 2015, e está até hoje sem produzir energia. A barragem pertence à Samarco, joint venture entre a Vale a anglo-australiana BHP.

A Fundação Renova, criada pela Samarco em 2016, por um termo de ajustamento de conduta para reparar os danos causados pela barragem de Fundão, ficou encarregada de fazer o manejo dos rejeitos para devolver as condições de funcionamento da hidrelétrica. A expectativa da fundação é iniciar este ano o trabalho de dragagem da lama do reservatório da usina.

“A Fundação Renova trabalha para entregar as obras no menor prazo possível, considerando as normas de segurança e qualidade exigidas. A estimativa é que as obras terminem no final de 2020”, informou a fundação, em nota ao Valor. Dos R$ 722 milhões previstos para recuperação do reservatório de Candonga, a ONG já desembolsou R$ 587 milhões.

 

 

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