Roberto Pereira D´Araujo
É inacreditável que o Brasil, país que já privatizou mais de 80 empresas de vários setores, vendeu praticamente todo o seu setor elétrico, tem péssimos serviços de transporte público privatizados há décadas, ainda tenha que suportar a falsa tese de que a “massificação” da comunicação foi obra da privatização.
Esse nível de desinformação, que sequer reconhece a verdadeira revolução tecnológica da digitalização que ocorreu em todas as áreas das comunicações, quer atribuir à privatização esse milagre. Certamente há outras intenções por trás dessa vergonhosa e antiquada manchete.
Na realidade, precisamos começar a discutir se o que fizemos pode ser chamado de um domínio da técnica de privatização, pois, até agora, só assistimos aumento de preços, elevação da dívida pública, aumento da carga fiscal, renúncias fiscais, bilionários empréstimos de BNDES e agências reguladoras com claros indícios de incompetência e captura. Sequer exigimos dos que adquirem fábricas prontas, a construção de novas.
É preciso “informar” a esse grande jornal que a China, líder da tecnologia digital, ainda tem empresas de telefonia estatais.
Para provar a falsidade da tese/mantra, basta lembrar que o Brasil modificou um sistema de telecom obsoleto e introduziu DDD e DDi quando estatizou o sistema, fazendo exatamente o movimento inverso. Portanto, trata-se de uma evidente falsa correlação entre privatização e modernização.
Roberto, mais do que oportuno é este registro de ‘fake news’ sobre a decantada privatização dos sistemas de comunicação no Brasil, que você coloca neste momento.
Vale lembrar que já em novembro de 2006 o próprio Ilumina desmistificou esta falácia, contando a verdadeira história da evolução das comunicações no Brasil, que até os anos 1970 eram 100% privadas e não atendiam ao interesse da sociedade, nem em qualidade, nem em cobertura e nem em preços e, por isso, tornou necessária a intervenção do Estado. O documento então publicado tinha o título de “PRIVATIZAÇÃO NÃO É SOLUÇÃO – A Mágica Simples das Telecomunicações.”
Na verdade, somente com a criação do Ministério das Comunicações, na segunda metade dos anos 1960, e logo a seguir da Embratel, viabilizou-se a implantação da Telebrás, em 1971, que a partir do ano seguinte encampou as empresas privadas de âmbito estadual ou regional, modernizando-as, de modo a colocar o Brasil na condição de não apenas se comunicar internamente, mas também com todo o mundo, através do satélite INTELSAT.
Foi a partir de então que se pôde assistir, ao vivo, pela TV, em praticamente todo o País, a chegada do Homem à Lua, em 1969, e a vitória da Seleção Canarinho na Copa do México, em 1970, entre inúmeros outros eventos importantes, além de se contar com os sistemas de DDD e DDI a toda hora.
É verdade que os graves problemas da Economia brasileira dos anos 1980, considerados a década perdida, acabaram por criar enormes dificuldades em todos os setores produtivos da Nação, muito especialmente naqueles de âmbito estatal e, em particular, no das Comunicações, onde medidas equivocadas acabaram por ampliar tais dificuldades que produziram uma crise de grandes proporções, acabando por dar motivos para “justificar” a tal proposta de privatização do setor então em voga decorrente do chamado “Consenso de Whashington”.
Feijó
Tenho tentado mostrar que estamos mergulhados num oceano de desinformações. É revoltante ver esse velho e falso argumento sobre a telefonia por parte de um jornal com a dimensão da Folha de São Paulo. O pior é que essa manchete de primeira página faz parte de uma “campanha” que defende a privatização como solução. Como se nós já não tivéssemos caminhado longamente por essa estrada sem colher os frutos prometidos.
Volto a lembrar que o BNDES revela que de 1995 até 2006 foram vendidas mais de 80 empresas. A receita total não ultrapassou US$ 106 bilhões, valor insignificante face a dívida pública e ao esforço continuado de financiamentos públicos.
Infelizmente, penso eu, temos que contestar as bases de um programa de privatização sem regulação eficiente que resulte em investimento e não apenas em troca de propriedade.
GRato pelo seu comentário!
Roberto sempre querendo colocar os pingos no ” is “, num pais de milícias armadas de fuzis nas comunidades e outras armadas de caneta em Brasilia. Meu querido colega é muito difícil a sua cruzada. Discutir se a privatização foi melhor ou pior, no mar de lama que nos encontramos é muito difícil. Eleições à vista, orçamentos bilionários de campanha, orçamentos secretos, candidatos imbecis, querendo comprar votos dos analfabetos políticos; uns oferecem 600 reais, outros 1000 reais, outros churrasquinho com cerveja, algumas chegaram até a falar em 5000 reais. Polarização; candidatos imbecis colocando Deus na politica, outros só contando mentiras ; a mídia imbecil polariza ainda mais o confronto entre candidatos; A direita se une a esquerda; só fisiologismo; podemos esperar o que disso tudo?? Infelizmente a confusão está estabelecida e a história mostra que a corrupção generalizada acaba em convulsão social.
Ghiganer
Grato pela sua resposta.
Temos a super dose e fisiologismo que você aponta. Temos os sinais claros de desmoronamento da sociedade nas milícias. Temos a regressão escolar que vai nos atrasar várias décadas. Estamos nos acostumando com uma pilha de absurdos.
Mas, além de tudo isso, na minha opinião, temos uma mídia poderosa que desinforma. Também estou cansado de colocar pingos nos “is”, mas essa questão da telefonia está baseada na ignorância popular que é fortalecida por esses jornais.
Pelo menos algumas pessoas leem e se manifestam. Abraço