A PROPÓSITO DE PALESTRA DO ENG. J. W. BAUTISTA VIDAL NO SEMINÁRIO "COLAPSO ENERGÉTICO E ALTERNATIVAS FUTURAS", REALIZADO NA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE S.PAULO EM 16 DE OUTUBRO DE 2000 Em alg …

A PROPÓSITO DE PALESTRA DO ENG. J. W. BAUTISTA VIDAL NO SEMINÁRIO "COLAPSO ENERGÉTICO E ALTERNATIVAS FUTURAS", REALIZADO NA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE S.PAULO EM 16 DE OUTUBRO DE 2000



Em algum momento de 1999 apareceu um manifesto pregando um golpe de estado no país. A parte boa do manifesto era o fato inegável dos seus argumentos contra o governo, cada um e todos, serem perfeitamente corretos para o leitor engajado na esperança e na luta por um país soberano.

Entretanto, lá pela terceira ou quarta página ocorria o desfecho: a constituição de 1988 dizia que caberiam as classes armadas a defesa da ordem pública caso para tal fossem chamadas por um dos três poderes da república. Como os referidos poderes ­ todos os três – haviam "traído a nação", perderam tal atribuição constitucional e deveriam ser depostos pelas classes armadas. Lógica curtíssima, grossíssima, limitadíssima.




Penso que poucos assinaram o manifesto. Perdi-o de vista. E entre esses poucos estavam irmanados ­ aliás, sem surpresa – em doses crescentes neste final de século, direitistas e esquerdistas autoritários.




O eng. Bautista Vidal na segunda-feira, dia 16/10/2000 , em sua palestra no seminário sobre a crise do setor de energia realizado na Assembléia Legislativa do Estado de S.Paulo, repetiu a dose. Não consigo fazer nenhuma restrição a violência verbal do palestrante. Plagiaria sem restrições a adjetivação da estrutura do caráter dos que tem governado o país, principalmente na última década. Como no manifesto de 1999, os argumentos do palestrante na sua maioria, senão todos eles, são corretos. Ai ocorria o desfecho: antecedido por um recrudescer de pesados adjetivos vinha o desfecho. Como o Congresso era um grande clube de traidores da pátria, deveria ser extinto. O fechamento do Parlamento, sem informar no discurso o que o substituiria, seria a única alternativa para o país. Aconteceram muitas palmas ao final da palestra, contudo tenho absoluta certeza que um bom número dos presentes, no intervalo dos pesados desabafos verbais, até pertinentíssimos, do palestrante, começaram a pensar:

Qual seria a alternativa para o país ao longo de sua história oligárquica prenhe de servidões voluntárias de suas classes dominantes e grupos dirigentes ? Seria o golpe de estado por iluminados fascistizantes e/ou bolchevizantes ?




Se pudéssemos convencer a maioria a dar ênfase à luta quotidiana como modo de caminhar, por que optar pelas ditaduras republicanas dos jacobinos florianistas ? Ou pelos Estados Novos ? Ou pelos vinte anos medíocres da ditadura militar ?




Não seriam mais atraentes ­ sem vivas a morte ­ os caminhos da expansão radical, libertária e contínua dos instrumentos e mecanismos populares de controle pela sociedade de todas as ações estatais ? Não seriam mais atraentes os caminhos da busca da substituição da hierarquia de poderes pela hierarquia de autonomias ?




Ou os seres vivos da nação continuarão a aplaudir aqueles que, com seus endêmicos hábitos totalitários de pensamento e de ação, continuam a propalar, a cada instante, totalitarismos nunca iluminados ?


O livro lançado pelo eng. Bautista Vidal no Seminário ­ BRASIL Civilização Suicida – contem argumentos e análises importantíssimos. Nas suas 87 páginas, das quais somente uma leitura dinâmica foi possível nas últimas 48 horas, não encontramos ou acreditamos encontrar, após leitura mais atenta, o cenário da extinção do parlamento e de qualquer outro poder da república. Mas encontramos narrações de cenários de servidão e tristeza.



Olavo Cabral Ramos Filho

18 de outubro de 2000










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