Editorial do GLOBO no dia 23/03/2023
Carta com parte desse texto e dados foi enviada ao jornal e publicada no dia seguinte.
É perfeitamente admissível que o GLOBO, um jornal de grande influência, expresse sua opinião contrária sobre a retomada de controle da união sobre a Eletrobras. O que é inaceitável é que, num editorial, se propague notícias falsas em nome dessa oblíqua visão.
A Eletrobras nunca foi “cabide de emprego” como, literalmente, assegura o jornal. Ao afirmar isso de uma empresa de energia, seria interessante citar como se chegou a esse diagnóstico. As empresas de energia são diferentes. Alguma são geradoras, outras transmissoras, outras distribuidoras e outras exercem as três atividades. Portanto, esse é um assunto extremamente complexo.
De qualquer maneira, como o editorial coloca essa questão no centro do debate, é preciso um mínimo de critério para fazer comparações. Por exemplo: A Eletrobras é responsável por uma extensão de linhas de transmissão de mais de 74.000 km, uma dimensão que equivale a seis voltas no planeta. Qual é o critério usado para afirmar que há funcionários em demasia?
Usando algum discernimento que relacione um aspecto a outro, o número de funcionários por capacidade instalada em MW da Eletrobras, comparado com outras empresas semelhantes no planeta, mostra o inverso do afirmado, já tendo atingido uma fração da média de 10 grandes empresas.
O número citado no editorial (26 mil empregados), além de injustificado, omite o fato de que a Eletrobras teve que adotar distribuidoras rejeitadas pelo setor privado, o que evidencia o peso que a estatal teve que assumir dada a fraca pujança do capital, que, frequentemente, só assume o lado rentável do nosso imenso território desprezando os desafios.
A informação enviesada também esconde o fato de que quase 17 GW das nossas recentes usinas hidroelétricas só viraram realidade porque a Eletrobras ofereceu parceria minoritária ao setor privado. Nada seria construído sem a Eletrobras. Na realidade, apenas 8% das nossas usinas nasceram de projetos privados e, mesmo assim, o cenário do editorial acha que o desinteressado setor privado não tem relação com a fragilização da estatal.
Além disso, será que o Brasil pode se orgulhar de ser o único do planeta a ter um sistema baseado em hidroelétricas majoritariamente privado? Todas compradas prontas de empresas estatais?
Voltando ao tema, os números abaixo (funcionários por MW instalado) são aproximados e de fontes distintas, mas, mesmo com essa limitação, é possível constatar a afirmação irresponsável dessas declarações da nossa mídia.
Duas curiosidades graves sobre o tema:
1 – O jornal Estado de São Paulo publicou editorial semelhante no mesmo dia. Vejam o título! https://www.estadao.com.br/opiniao/militantes-do-atraso/
2 – Por incrível que seja, já que o argumento é excesso de funcionários, a CPFL, empresa que foi presidida pelo atual presidente da Eletrobras privada, é a líder em “cabides de emprego” na tabela acima. Vejam que sendo uma distribuidora, a comparação é ruim, mas é importante mostrar que para fazer o diagnóstico do jornal, é preciso ser criterioso.
Infelizmente os poderosos grupos de mídia não irão se retratar, pois eles constroem a “realidade” que defendem.
6 comentários para “As opiniões sem fundamento sobre a Eletrobras”