Bastaria ler um só artigo da imprensa americana para notar a semelhança de dramático destino entre a Califórnia e o Brasil desregulamentados. Muito, nos últimos meses e sobretudo nas últimas semanas e dias tem sido escrito, na imprensa do império do norte, sobre os acontecimentos que beiram a catástrofe na Califórnia. Contudo, ao leitor do “site” do ILUMINA bastaria clicar aqui (Mutiny on the Meter? (washingtonpost.com) para acessar o texto de William Booth no Washington Post de 3 de dezembro.
Para o brasileiro, ou sul-americanos em geral, daria no mesmo a vitoria de Gore ou Bush. Seriam meras irrelevantes diferenças entre republicanos e democratas. Isso em primeira aproximação. Até bem pouco tempo alguns diziam que os democratas seriam piores por mais protecionistas comerciais para o Brasil.
A coisa é mais complexa. Contudo, sem maiores complexidades, entre os brasileiros mais progressistas e menos sujeitos à crônica servidão voluntária que contagia permanentemente as oligarquias dominantes, sempre existiu uma simpatia automática, um tanto simplista mas sem maiores explicações necessárias, pelos democratas. A oportunidade da presente crise eleitoral americana foi preciosa para a seguinte constatação por pindorâmicos e cucarachos que a acompanharam com mais atenção e curiosidade: um importante detalhe de diferença entre os republicanos e democratas apareceu à tona pela linguagem extraordinariamente agressiva e violenta dos republicanos e sua racionalização argumentativa antidemocrática e ávidíssima de poder.
O artigo do Washington Post comenta outro mini- detalhe da referida diferença, quando relembra que a desregulamentação californiana foi dirigida pelo ex governador republicano Pete Wilson em 1996 e registra a atitude presente do atual governador democrata Gray Davis cancelando uma viagem programada ao exterior para dedicar-se a preparação de um novo plano estadual de energia que pretende apresentar a curtíssimo prazo. Bem como até convocar uma seção especial do legislativo estadual totalmente devotada a crise de energia.
Contudo qualquer analogia linear entre o drama californiano e brasileiro fica prejudicada pela diferença abismal de atitude e comportamento dos dirigentes estatais de lá e os daqui. Atente, por exemplo, para o comportamento de membros do I S O (California Independent System Operator), o O N S de lá versus o comportamento e argumentações dos dirigentes do O N S de cá. Perguntamos se os dirigentes do MME, da Eletrobrás, da ANEEL, do MAE, do BNDES seriam capazes de tão sincera declaração como a do governador Davis dirigindo-se aos reguladores federais:
” Não há nenhuma dúvida na cabeça de ninguém na California que o mercado aqui e as regras pelas quais ele é operado foram manipuladas para gerar lucros obscenos.”