Reportagem do Estado de São Paulo:
ENERGIA EÓLICA JÁ ABASTECE MAIS DE 30% DO NORDESTE
Com a queda nas represas de hidrelétricas, energia gerada pelos ventos ganha cada vez mais importância na região
Independente da preocupante redução das afluências do Rio São Francisco, é evidente que:
- A capacidade de regularização hidráulica do sistema integrado está se reduzindo em função do aumento da carga e da impossibilidade de agregar novos reservatórios no mesmo ritmo do consumo.
- Essa regularização, essencial para a segurança e estabilização dos preços, só pode ser recomposta com complementação de outra fonte energética. O Brasil, por muito tempo, acha que isso é papel das termoelétricas.
O texto abaixo em itálico foi publicado pelo Ilumina há 3 anos. Existe um efeito sistêmico na energia eólica que, mesmo hoje, não é reconhecido e atribuído a esse tipo de fonte energética.
As eólicas, se alcançarem maiores gerações, podem fazer uma grande diferença. O gráfico abaixo mostra dados reais de energia gerada (GWh) por elas (linha amarela, eixo esquerdo) comparadas com a energia natural dos rios (linha azul, eixo direito). Os dados de anos anteriores a 2013 foram “inflados” para que a média fosse igual ao ano de 2013. É como se tivéssemos o mesmo parque de 2013 funcionando desde 2007. O que interessa mostrar aqui é o padrão complementar hidro-eólico. Como se pode verificar visualmente, se tivéssemos dez vezes mais eólicas, elas poderiam exercer um padrão semelhante à complementação térmica. O problema desse efeito ainda não ser percebido é ainda o baixo percentual eólico na matriz. Apesar dessa característica média, as eólicas não são valorizadas por essa complementação.
Infelizmente, por fundamentalismo ideológico, o governo manteve a ideia de realizar leilões genéricos decididos por um discutível índice de custo benefício e as eólicas não foram valorizadas nem pelo efeito ilustrado no gráfico. Certamente não teríamos decuplicado nosso parque, mas alguma ajuda já seria sentida se não tivéssemos perdido tanto tempo. É importante também lembrar que o país precisa dominar essas tecnologias para não se transformar num mero montador de usinas importadas. Vejam como é importante a política industrial e de pesquisa para que tenhamos uma agenda coerente.
Pelo predomínio de uma visão estreita sobre a função das usinas hidroelétricas nas regiões onde estão localizadas, até hoje a discussão sobre grandes reservatórios é tratada como um conflito entre meio ambiente e energia. Muitos acreditam que é absolutamente necessária a retomada desses projetos para a regularização das nossas afluências tropicais, mas tanto as usinas eólicas quanto a solar terão efeito surpreendente e significativo na complexa gestão da nossa reserva integrada.
Há muito a ser estudado no nosso setor elétrico.
Roberto, o que você quis exatamente dizer quando fala em uma visão estreita sobre a função das usinas hidroelétricas?
Também gostaria de perguntar sobre sua opinião a respeito da segurança de suprimento com a maior penetração de eólica e solar. Tenho lido algumas críticas à respeito da expansão de renováveis na Alemanha. Como esta https://www.technologyreview.com/s/601514/germany-runs-up-against-the-limits-of-renewables/ .
Sem termos grandes exportadores de energia ao nosso lado, é nossa capacidade de reserva suficiente para absorver a intermitência das eólicas (mesmo não duvidando da complementariedade que você muito bem mostrou no gráfico) e não corrermos riscos de outro racionamento de água em épocas de seca?
Espero não ter feito nenhuma consideração equivocada sobre isto.
Obrigado!
Rodrigo:
Hidroelétricas com reservatórios num país com tanta diversidade regional e carências evidentes, jamais deveriam ser encaradas como mais uma forma de geração de energia que “concorre no mercado” com outras fontes. Térmicas e eólicas são meras fábricas de kWh. Hidroelétricas não. O que quis dizer é que, se as usinas com reservatório fossem imaginadas desde o início como projetos regionais com o envolvimento de outras áreas de governo além do ministério de energia, as resistências à construção desses projetos seria menor. Para exemplificar o atraso, a navegabilidade do Rio Madeira é uma antiga tese até da Bolívia. AS usinas foram construídas sem eclusas. Isso mostra a visão puramente energética de construções que podem ser avistadas do espaço!
Quanto ao relacionamento dessas novas fontes com o sistema tradicional, o nosso caso me parece ser muito diferente do caso da Alemanha. Uma geração solar distribuída, apesar de ocorrer durante o dia, vai ser percebido pelo sistema integrado como uma redução da carga de energia. Água reservada vai ser economizada e isso pode alterar bastante a lógica econômica da operação e consequentemente da própria expansão.
Grato pelo comentário.