Dá para confiar?

Olhamos com muita desconfiança esse relatório do Banco Mundial. Mais parece um instrumento de pressão sobre um governo já extremamente preocupado em atrair capital externo custe o que custar do que um estudo válido.


A comparação com a China é descabida, pois aquele país nem tem uma justiça pré-estabelecida para a atração dos investimentos. O que realmente interessa ao capital estrangeiro na China é o surgimento de novos mercados que abrem oportunidades de negócio numa velocidade formidável, fruto principalmente da numerosa população. Isso mostra que novos mercados promissores e crescentes compensam qualquer risco regulatório.


O exemplo de país dado pelo economista chefe do Banco Mundial chega a ser risível. O Chile, segundo ele, sucesso na América Latina, é hoje um país totalmente dependente de importações e que, fora os excelentes vinhos, retornou à condição de uma economia exportadora de produtos primários, cobre principalmente. O PIB do Chile é muito menor do que o do Brasil e esse país convive com taxas de desemprego totais da ordem de 20% por décadas. Nem a China nem o Chile são paradigmas para criticar as reformas das reformas da desastrosa década de 90.






CUSTO BRASIL – Folha de São Paulo – 29/09/04

Avaliação em aspectos como carga tributária, financiamento e regras estáveis é a pior entre 53 nações em desenvolvimento

País afasta investimentos, diz Banco Mundial


FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O Brasil é considerado o pior país do mundo entre 53 nações pobres e emergentes no que se refere a estabilidade de regras, tamanho da carga tributária, financiamentos para o setor produtivo e custos trabalhistas.
A América Latina e a África seguem como as duas piores regiões do mundo para fazer negócios, afirma relatório do Banco Mundial divulgado em Washington.
O “Relatório para o Desenvolvimento Mundial – 2005” traz mais uma notícia ruim para o Brasil. Um destaque especial é dado aos “progressos acelerados” na China e na Índia, os dois principais competidores emergentes do Brasil.
A evolução de China e Índia, com indicadores bem melhores que os brasileiros na área de facilidade para negócios, tende a diminuir o potencial de investimentos estrangeiros no Brasil.
O relatório do Banco Mundial, cujo subtítulo é “Um Clima Melhor de Investimentos para Todos”, foi feito com base em 30 mil entrevistas com empresários de 53 países em desenvolvimento.
A amostra brasileira, de 1.642 companhias, é a terceira maior, atrás da Índia (1.827) e da China (3.948). As empresas citadas no relatório foram ouvidas entre 2002 e este ano.
Quase 76% dos empresários brasileiros reclamam da instabilidade nas regras; 84,5%, da carga tributária; 71,7%, da falta de financiamentos; e 56,9%, dos custos na área trabalhista. O estudo mostra o Brasil como excessivamente “burocrático”. Os brasileiros também estimam que o equivalente a 15% do valor de suas vendas é consumido com dificuldades em fazer valer contratos, propinas, regulamentos excessivos, custos relacionados a crimes e infra-estrutura inadequada.
François Bourguignon, economista-chefe do Banco Mundial, reconheceu durante entrevista que anos de reformas e privatizações na América Latina e no Brasil não foram eficazes para reduzir a pobreza na região. “É preciso lembrar, porém, que a estabilidade macroeconômica é condição básica para que haja um clima favorável aos negócios. Outras mudanças ainda são necessárias.”
Bourguignon apontou o Chile como exemplo de sucesso. Como um dos exemplos para o entrave a negócios no Brasil, Bourguignon citou o fato de 57% dos financiamentos ficarem concentrados em apenas 2% das grandes empresas.
Em muitas das 288 páginas e na apresentação, o relatório faz vários elogios à evolução da China e da Índia. “A melhora no clima para investimentos nos dois países levou à mais dramática redução da pobreza da história”, escreve James Wolfensohn, presidente do Banco Mundial. “Outros países perseguem a mesma agenda, mas seu progresso permanece lento.”
Como resultado de um melhor clima para negócios nas décadas de 80 e 90, os investimentos privados na China e na Índia praticamente dobraram como proporção do PIB (Produto Interno Bruto) no período. Em 20 anos, diz o Banco Mundial, 400 milhões de pessoas na China deixaram de viver com menos de US$ 1 ao dia. Na média, a China cresceu 8% ao ano em todo o período.
Na Índia, que teve um crescimento de 6,7% ao ano nos anos 90, o percentual de pessoas vivendo com menos de US$ 1 ao dia caiu de 54% em 1980 para 35% em 2000. “Nenhum dos dois países tem clima de investimentos ideal, mas estão perseguindo as reformas necessárias”, diz o relatório.
A renda nacional bruta per capita tanto da China (US$ 1.100) quanto da Índia (US$ 530) permanecem bem abaixo da brasileira (US$ 2.710). Mas, proporcionalmente, o ritmo de crescimento nos dois países tem sido maior.
Entre 1999 e 2003, o PIB da China passou de US$ 991 bilhões para US$ 1,4 trilhão. O da Índia, de US$ 447 bilhões para US$ 599 bilhões. No mesmo período, o PIB brasileiro encolheu de US$ 536 bilhões para US$ 492 bilhões.


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