Déficit de energia vai custar R$ 39 bilhões a hidrelétricas – Valor

Análise do ILUMINA: Imagine que as autoridades brasileiras fossem a um seminário internacional de mercados de energia e tivessem que explicar com detalhes essa trapalhada. Provavelmente, a reação da plateia seria essa da foto.

Atenção! O Ilumina disse EXPLICAR COM DETALHES! Se o governo fizesse isso, teria que mostrar o gráfico abaixo.

Evidentemente a audiência perguntaria o que fizemos quando as hidroelétricas apresentaram enormes saldos. Diante da resposta, a gargalhada seria ainda maior, pois, esses saldos foram liquidados por até R$ 12/MWh, 33 vezes mais barato do que o preço atual. Evidentemente, eles entenderiam esse valor, ridículo, para mercados de energia, como uma piada!

Com certeza, o seguinte diálogo ocorreria:

– Vocês não têm nenhum sistema de compensação de saldos e déficits?

– Não….não pensamos nisso. – Responderia a “autoridade” brasileira.

– Mas…vocês não percebem que acabaram de associar um custo sistêmico às hidroelétricas? Justamente a parcela de energia que deveria ser mais barata?

– Bem…pois é…mas…vamos dar um jeitinho….

O gráfico é uma evidência de que está tudo errado no setor. Alguém já viu essa simples informação em algum jornal? Claro que não! Na realidade, apresenta-se o problema como se tudo fosse normal, pois, no fim da história, esse prejuízo vai cair nas contas dos consumidores.

Num país com o nível de corrupção, com o nível de violência, com os déficits na saúde, na educação, no transporte e, que diante disso tudo, a reação é nenhuma, o que se poderia esperar? Afinal, é a manchete principal do jornal econômico brasileiro e a trapalhada continua oclusa.


 

Camila Maia

O déficit de geração hídrica de energia deve custar R$ 39,7 bilhões às companhias hidrelétricas neste ano, segundo projeção da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) à qual o Valor teve acesso.

O montante é praticamente o dobro do custo ocorrido em 2015. O déficit de geração, medido pelo fator GSF (na sigla em inglês), ocorre quando os reservatórios de água, por causa da escassez de chuvas, ficam abaixo de um determinado nível. Neste momento, a escassez de chuvas é generalizada no país. Mesmo no Sudeste, onde tem chovido mais, as precipitações estão ocorrendo fora dos lagos das hidrelétricas.

Por causa da situação dos reservatórios, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tem acionado as usinas termelétricas e determinado que as hidrelétricas gerem apenas um percentual de sua garantia física. Levando em conta as projeções de oferta e demanda de energia, a CCEE calcula GSF médio de 80,8% em 2017. Isto significa que as hidrelétricas só poderão gerar, em média, esse percentual de sua capacidade.

Uma hidrelétrica que tenha 100 MW médios de garantia física só vai poder gerar 80,8 MW médios no período. O problema é que, se ela tiver contratos para entregar 95 MW médios, precisará comprar 14,2 MW médios no mercado, pagando preço do mercado à vista, que está em torno de R$ 400 por megawatt­hora (MWh). O valor está alto porque a escassez de chuvas obriga o ONS a despachar energia das termelétricas, cujo custo é bem mais alto que o das hidrelétricas.

Como o preço de liquidação das diferenças (PLD, referência do mercado à vista) médio projetado para o ano é de R$ 353 por MWh, a exposição das hidrelétricas deve chegar a R$ 26,7 bilhões nos contratos do mercado regulado e a R$ 13 bilhões no mercado livre, o que agrava ainda mais a situação.

Em 2015, o problema chegou a travar o mercado livre, obrigando o governo a editar a Medida Provisória 688, convertida na Lei nº 13.203, que instituiu um “seguro” para as usinas. O problema não foi solucionado porque as hidrelétricas contratadas no mercado livre não aderiram e recorreram à Justiça para não pagar o custo da GSF. O tema saiu do radar do governo no ano passado, uma vez que os preços da energia no mercado livre estavam mais baixos e as chuvas caíram.

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