Desinformação

Roberto Pereira D’Araujo

Na imprensa e nas badaladas “redes sociais” é possível perceber que há uma realidade fantasiosa inacreditável. Análises sobre a Eletrobrás e sobre a energia elétrica em geral estão repletas de DESINFORMAÇÃO.

Aqui vai uma lista de dados totalmente invertidos na cabeça de muita gente com diploma na mão. Por exemplo:

  1. O setor elétrico brasileiro já é majoritariamente privado. A Eletrobrás, a “culpada” preferida da mídia, só tem 31% da geração, 48% da transmissão e, na distribuição 90% está em mãos privadas.
  2. Mesmo na transmissão da Eletrobrás, em 11% dos ativos ela é sócia minoritária, ou seja, linhas sob controle privado.
  3. No resto das linhas, 79% foram atingidos pela medida provisória do governo Dilma que obrigou redução artificial de tarifas. Portanto, ali, a Eletrobrás só administra operação e manutenção. Na realidade, nem podem ser considerados ativos da empresa. Só sobram 10% das linhas como ativos próprios.
  4. Se fosse só na transmissão, seria fácil. Na geração, dos 48 GW, cerca de 14 GW (30%) também foram atingidos pela intervenção do governo Dilma. Ali, as tarifas impostas são tão baixas que a Eletrobras, na realidade, paga para operar. Imaginem para quanto iria a tarifa se essa intervenção não estivesse operando. Portanto, se alguém quer eleger um culpado pelos altos preços do kWh no Brasil, é preciso um mínimo de informação. Aguardem a privatização!
  5. De posse de tanta informação invertida, é fácil levantar a bandeira da privatização da Eletrobrás. A rede está repleta de adeptos do “privatiza tudo”. Será que eles sabem que, dentre os países que têm a hidroeletricidade como dominante no seu suprimento, nenhum é totalmente privado? Na realidade, o clube é restrito. Noruega, Canadá e Brasil. Mesmo os que não têm a hidroeletricidade como fonte principal, mas são líderes nessa forma, nenhum privatizou tudo. China, Estados Unidos, Suécia, Rússia, Índia. Portanto, o Brasil vai ser o único.
  6. E o que dizer quando o principal divulgador de “fake data” é o próprio presidente da Estatal, Wilson Ferreira? Alardeia que a Eletrobrás tem muito funcionário, quando, na realidade, os índices de empregado por MW instalado são muito inferiores aos da italiana ENEL, francesa EDF, espanhola IBERDROLA, americanas, SOUTHERN, DUKE, EXELON e da alemã EON.
  7. O que dizer por exemplo do mítico “mercado”? Alguns acham que o Brasil não adotou esse sistema! Ele está válido desde 1995 e, de lá para cá, a tarifa residencial (média!) subiu 60% acima da inflação e a industrial inacreditáveis 130%. A não ser que achem correto que um nicho de consumidores possa se aproveitar de hidrologias favoráveis e sobras de energia, como ocorre no bizarro mercado livre brasileiro, estão totalmente por fora.
  8. O outro “malvado favorito” é São Pedro. O que ele já levou de culpa pelos reservatórios vazios é impressionante. Por exemplo, ninguém sabe que, de 2006 até 2018, na contramão da tendência mundial, o Brasil triplicou (atenção, 3X!) a capacidade de usinas térmicas. Quando se tem uma oferta de energia muito mais cara do que as hidráulicas, o operador do sistema, corretamente, adia sua geração. Quem gera no lugar dessas usinas? As hidráulicas. Portanto, o nível reduzido de reserva dos últimos 4 anos não é culpa exclusiva de S. Pedro. É isso, ou bandeira vermelha muito mais tempo.
  9. Agora, muito atrasado, eólicas e solares estão entrando com força. Mas, mesmo sendo opções óbvias, os conflitos típicos de interesses corporativos de distribuidoras continuam atrapalhando.
  10. Que tal culpar as árvores que caem sobre os postes de distribuição e provocam apagões de mais de 12 horas? Essa é notícia comum da imprensa. Ninguém toca no assunto da bagunça de fios, que esconde uma receita das distribuidoras que alugam os postes para as teles. Ninguém toca no assunto de que, já que é desordem de fios, quem tem que planejar a poda de árvores é a distribuidora. Ninguém toca no assunto de que essa desordem esconde perdas elétricas que os consumidores pagam. Ninguém toca no assunto do risco para as empresas de manutenção.

Como pano de fundo desse tsunami de desinformação, a ilusão que temos um sistema de agências reguladoras capazes de fiscalizar um país continental. Ninguém tem a mínima noção do tamanho do estado regulador americano, tão elogiado pelos desinformados.

O FERC (Federal Energy Regulatory Comission) tem 1500 funcionários e cada um dos 50 estados americanos têm sua própria agência de energia elétrica.

A ANEEL tem 163 analistas administrativos, 340 especialistas em regulação, 127 técnicos administrativos, 20 procuradores, 20 servidores do quadro específico e 39 servidores ocupantes de cargos comissionados, sem vínculo efetivo com a Administração, além de 10 servidores cedidos à Agência por outros órgãos. Isso para o Brasil inteiro.

É assim, mal informada, que a sociedade brasileira é tocada com um rebanho de ovelhinhas.

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