Roberto Pereira D´Araujo
A pedidos de um dos leitores de artigos no Ilumina, faço uma análise do seguinte texto de autoria do Dr. Adriano Pires. Ler antes.
O Sr. Adriano Pires sempre esteve a favor, tanto do modelo mercantil, que hoje ele recrimina, como a favor da privatização da Eletrobras. Se, como ele afirma, “não é de hoje que discute a privatização da Eletrobras”, é porque algo está muito errado nas premissas que ele sempre acreditou. Não me parece que “antiguidade” seja um argumento válido.
Repare que a tese principal defendida é que a Eletrobras só exercerá um “papel de protagonista” se passar a ser controlada pelo capital privado. O que ele não consegue entender é que o problema da empresa pública que imaginou, coordenou e implantou a arquitetura do nosso sistema, foi exatamente ter que assumir um papel de “protagonismo” para reparar os defeitos do modelo privado mercantil que ele tanto admira.
Senão, vejamos:
- Sem ser sua área de atuação, a Eletrobras assumiu empresas distribuidoras rejeitadas pelo capital privado assumindo dívidas e contrariando seu estatuto.
- O racionamento, que não foi obra exclusiva de São Pedro, mas sim da falta de investimento do capital que aguardava a confortável situação de comprar usinas prontas, preparou outras armadilhas para a Eletrobras.
- Com a queda de consumo, a Eletrobras perdeu seus contratos, apesar de mais baratos, e continuou sendo obrigada a gerar energia hidroelétrica. Foi proibida de atuar no mercado livre liquidando seus MWh a preços irrisórios.
- Enquanto isso, tão ao gosto do Dr. Adriano, o plano prioritário de térmicas lançava 14 GW de usinas. Exerceram um papel inútil por mais de 8 anos, pois sua geração média não passou de 2 GW médios, já que o consumo caiu 15%.
- O mercado livre, viciado em preços irrisórios, atinge 30% da carga e não contrata expansão nem para a sua parcela de energia. Outro leilão de térmicas contrata mais de 10 GW a partir de 2008.
- Já que o capital mostrou não ter iniciativa e nem interesse por construir hidroelétricas, a Eletrobras foi obrigada a oferecer parcerias majoritárias ao capital para construir quase 17 GW de projetos hidroelétricos.
- Sem qualquer diagnóstico das razões da verdadeira explosão tarifária brasileira, o governo, atendendo campanhas da FIESP, faz uma redução tarifária a fórceps nas usinas da Eletrobras. A maioria das usinas privadas não foi atingida.
- Agora, se aproveitando de erros conceituais, o governo faz uma redução do certificado matemático de garantia física nas usinas atingidas pelo processo de cotização, outra vez atingindo usinas da Eletrobrás. O Dr. Adriano faz considerações totalmente equivocadas sobre o MRE e o GSF, parte da “sopa de letrinhas” do modelo mercantil que não se enquadra no mundo físico brasileiro.
- Como se vê, a Eletrobras foi a “protagonista” de vítima nessa irônica comédia. Mas, infelizmente, como já é tradição do Brasil, ninguém conhece esses detalhes.
Todas as explicações detalhadas se encontram na postagem abaixo, que, até hoje, 23/03 não foram respondidas pela audiência do BNDES sobre o processo de capitalização.
http://www.ilumina.org.br/consulta-publica-sobre-a-privatizacao-da-eletrobras-bndes/
Realmente um país com abundância de recursos naturais precisar realizar:
“A construção de 8GW de geração térmica a gás natural nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste vai trazer confiabilidade à matriz elétrica brasileira hoje muito refém do clima, produzir empregos com a construção de gasodutos e levar desenvolvimento regional através da chegada dos gasodutos….”
A que custo? Vivemos uma verdadeira distopia neste país.
Impressionante! Uma quantidade tão grande de desinformação não pode ser desconhecimento, ainda mais vindo de uma pessoa tão influente no setor, ao ponto de ter sido indicado para a presidência da Petrobrás.