Governo tem janela até abril para resolver GSF – Valor

Análise do ILUMINA: Talvez faça parte da nossa cultura subdesenvolvida, mas, se há algo que beira o ridículo é o conceito e o anglicismo do termo GSF (Generating Scaling Factor). Senão vejamos:

  1. Como se sabe, temos a liderança mundial dos recursos hídricos, mas estamos submetidos a um clima tropical.
  2. Essa condição é uma imensa vantagem, mas, evidentemente, é preciso deixar claro que há grandes incertezas sobre as afluências dos nossos rios.
  3. A Eletrobras, que, até 1995 exerceu o papel que é hoje feito pela EPE, ONS e CCEE, coordenou um sistema integrado de grandes reservatórios que foi eficiente para regularizar essas incertezas.
  4. A partir de 1995, adotando uma subjetiva adaptação do que ocorre num sistema térmico, o mercantilismo “vestiu” as usinas (todas) de um certificado que hoje tem o nome de Garantia Física (GF).
  5. Depois do racionamento de 2001, durante o governo Lula, foi questionada essa adaptação e apontados os grandes defeitos dessa metodologia.
  6. Infelizmente, alternativas, que existiam, não foram sequer apresentadas e o governo de então abraçou a mesma filosofia do anterior.
  7. A situação que temos hoje é a de que leilões são realizados para construção de usinas baseadas nesse “cálculo de escritório” dependente de diversos critérios mutáveis.
  8. Os contratos são assinados e preços impactam as contas dos consumidores.
  9. O gráfico abaixo mostra que, na grande maioria do tempo, usinas hidroelétricas geram acima de sua GF.
  10. Nessa situação, os preços de curto prazo no mercado livre despencam para valores irrisórios que só podem ser capturados pelos agentes desse nicho.
  11. Como singularidade brasileira, as usinas não decidem a sua quantidade de energia gerada. Ela é uma decisão do operador do sistema. Portanto, em termos estritos, não se pode responsabilizar as usinas hidroelétricas pelos seus déficits de geração. Por isso o alto grau de judicialização (custos).
  12. Assim, conseguimos construir a seguinte ridícula situação: Nos períodos de “alívio” hídrico, não formamos um fundo financeiro para enfrentar os períodos de “aperto”. Seja ele de origem climática ou de atraso de investimentos!
  13. A solução imaginada, como sempre, irá espalhar custos advindos de barbeiragens de modelo pelos consumidores.
  14. Basta ler a reportagem para perceber que não há sequer sinal de se ir ao âmago da questão. Nenhuma menção a óbvia assimetria dos mercados livre e cativo.


 

Rodrigo Polito e Camila Maia
O governo deveria aproveitar o cenário positivo do risco hidrológico (medido pelo favor GSF, na sigla em inglês) neste início de ano para tentar acelerar um acordo para encerrar a guerra na Justiça sobre o assunto, de acordo com Lucas Rodrigues, analista de mercado da Safira Energia.

“Espera-se que, mais ou menos até abril, não se tenha GSF abaixo de 1. Abrese uma janela em que não vai onerar mais esse passivo. É um período de alívio para se pensar de fato [em uma solução]”, disse Rodrigues ao Valor.

Segundo dados disponibilizados ontem pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o mês de fevereiro deve ter um GSF positivo de 113%, subindo para 113,3% em março. Quando o indicador fica positivo, significa que a produção total de energia foi maior que a garantia física das hidrelétricas no período.

Além do início do ano ter uma hidrologia mais favorável, as hidrelétricas em geral “sazonalizam” os contratos de venda de energia para meses mais secos, devido à expectativa de elevação nos preços. Se as previsões de alta no preço da liquidação das diferenças (PLD, referência do mercado à vista de energia) se concretizar, aquelas usinas que deslocam seus contratos para esses meses poderão vender a energia a um valor maior.

O cenário de GSF positivo deve começar a se inverter em meados do ano, voltando a representar um problema para as hidrelétricas e para o governo. O analista da Safira prevê um déficit de geração das hidrelétricas de 10% a 15%, o que resultaria em um custo de R$ 4 bilhões no mercado livre, além dos R$ 6,04 bilhões que estão travados nas operações do mercado de curto prazo por força de liminares de geradores.

A previsão da comercializadora está em linha com a apresentada pela CCEE ontem. A câmara de compensações prevê um GSF médio de 13,1% no ano, com custo financeiro de R$ 13 bilhões caso todas as hidrelétricas estivessem com as garantias físicas 100% contratadas. No mercado regulado, em que a maior parte das usinas comprou algum tipo de seguro contra essa exposição, o efeito seria de R$ 9 bilhões. No mercado livre, a estimativa é que o custo chegaria a R$ 4 bilhões.

Enquanto o governo tenta negociar com as hidrelétricas para resolver o impasse e destravar o mercado à vista de energia, tentam, via emenda, incluir uma solução para a judicialização do GSF na Medida Provisória (MP) 814 – que originalmente trataria desse tema. A MP tem até o início de junho para ser aprovada

  4 comentários para “Governo tem janela até abril para resolver GSF – Valor

Deixe um comentário para Roberto D'Araujo Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *