Interessante ler os dois artigos abaixo e idenificar, por incrível que pareça, as semelhanças. Muito estranho que nenhum jornal tenha noticiado que a siuação do equilíbrio entre afluências …

Interessante ler os dois artigos abaixo e idenificar, por incrível que pareça, as semelhanças.


Muito estranho que nenhum jornal tenha noticiado que a siuação do equilíbrio entre afluências (energia afluente) e consumo está se deteriorando, como foi noticiado nos jornais televisivos. Esse equilíbrio só é extremamente importante porque deixou-se esvaziar os reservatórios por 4 anos seguidos. Continuamos afirmando! Nossa trajetória é de alto risco!!


PAUL KRUGMAN – The New York Times

O poder da Enron


A EMPRESA GANHOU MUITO COM A CRISE ENERGÉTICA AMERICANA


Quando os deuses vão destruir alguém, primeiro o colocam na capa da Business Week. Quando a edição dessa revista de 12 de fevereiro trouxe na capa a foto de Jeffrey Skilling, todos sabiam que coisas ruins estavam para acontecer tanto para a Enron quanto para o seu novo presidente. E terça-feira, Skilling renunciou, alegando "motivos pessoais". No dia seguinte ele admitiu que o mais importante desses motivos pessoais foi a queda de 50% no valor das ações da empresa a partir de janeiro.


Seria mais um caso de expectativas extravagantes frustradas, o tipo de história que se tornou bastante comum nos últimos tempos? Não. Este caso tem um significado mais amplo. A Enron, com sede em Houston, está na vanguarda de um forte movimento que espera "financializar" (o termo é usado pela Enron) praticamente tudo – ou seja, comercializar quase tudo como se se tratasse de opções de ações.


Esse movimento tem implicações políticas e empresariais, e a empresa não tem hesitado em usar suas conexões políticas para levar em frente a sua causa.


Com a chegada de George W. Bush à Casa Branca – graças, em boa parte, à Enron, uma importante participante de sua campanha eleitoral -, o céu parecia ser o limite. Mas a "financialização" cada vez mais parece um movimento que ultrapassou seus limites originais.


A Enron era, originalmente, uma empresa de gasodutos, presa, como todas as companhias desse tipo, a uma camisa-de-força regulatória. Mas na metade da década de 80, os mercados de gás natural foram liberados. E Kenneth Lay, que era seu presidente naquela ocasião, e está voltando para substituir Skilling, viu uma grande oportunidade.


Ele transformou a Enron de uma companhia que vendia BTUs de gás natural numa empresa que lida com contratos. Como a Business Week observou, a empresa "tem mais afinidades com o Goldman Sachs do que com a Consolidated Edison".


A Enron tornou-se o principal agente da nova e desregulamentada indústria do gás natural. Como a desregulamentação deu certo para o gás natural, que se acabou tornando a fonte energética favorita dos EUA, o novo papel da Enron mostrou-se altamente lucrativo. Depois do gás, a eletricidade. Como a desregulamentação da energia fez estragos em todos os Estados Unidos, a Enron assumiu um papel-chave como corretora do mercado atacadista de eletricidade. Logo a companhia estava procurando novos mundos a serem conquistados: fornecimento de água, banda-larga em cabos de fibra óptica, armazenamento de dados e até mesmo espaços de publicidade.


Então, as coisas começaram a dar errado. A Enron abandonou o projeto de fornecimento de água quando ficou claro que os governos hesitavam em deixar uma questão tão crucial submetida à magia da mão invisível. E os céticos encontraram amplas justificativas para a sua falta de fé quando a desregulamentação da eletricidade, que teoricamente deveria ser uma história de sucesso, deu espetacularmente errado na Califórnia. Os verdadeiros crentes insistem em que a crise energética de 2000 e 2001, que transferiu dezenas de bilhões de dólares dos contribuintes para as empresas geradoras de eletricidade – e uma parte para a Enron, também -, não representa um veredito de condenação à desregulamentação, e que tudo foi culpa de políticos que desconhecem o assunto e não deixaram o mercado funcionar. Mas esta argumentação não é particularmente convincente, em especial porque não é verdadeira. A lição real da catástrofe da Califórnia é que as preocupações que levaram à regulamentação – o poder dos monopólios e a ameaça de manipulação de mercado – são questões que ainda estão vivas.


Os governos estaduais e municipais, alertados pelos acontecimentos na Califórnia, de agora em diante ficarão bem mais alertas quanto à desregulamentação. Há até mesmo um movimento para restabelecer a regulamentação nos mercados de eletricidade. E isso significa menos oportunidades para a Enron, cujas ações dependem da expectativa de que a empresa continuará encontrando novas Califórnias para conquistar. É claro, o pessoal que a Enron colocou na Casa Branca continua lá, e parece que eles nada aprenderam com a Califórnia. É verdade que a administração Bush algumas vezes se apega aos seus princípios de livre mercado – o governo acredita, por exemplo, que os produtores de energia precisam de enormes subsídios, embora a escassez de fornecimento que tais subsídios teoricamente corrigiriam seja apenas imaginária (recentemente, uma matéria de capa da revista Barron’s chamou a atenção para "a abundância de energia que vem por aí").


De qualquer modo, a fé do governo nos mercados absolutamente desregulamentados continua intocada. O novo chefe da Comissão Federal de Regulamentação da Energia – o órgão de vigilância que ostensivamente se recusou a fazer o seu trabalho na Califórnia – é, como você deve ter adivinhado, um texano intimamente ligado à indústria energética. E o governo continua a acreditar que a "financialização" é o meio de se resolver tudo, das bolsas escolares à Previdência Social. Mas o governo está errado. E esperemos que não ocorra uma série de catástrofes para nos ensinar que há limites para o que os mercados podem fazer.Estado18/8


Helio Fernandes – A Tribuna da Imprensa

FHC: "Fui pego de surpresa"


Meses antes do apagão, revelávamos a crise de energia


Os jornais amigos e as televisões compreensivas, deram o maior destaque à luta da Cemig para participar do chamado leilão da Cesp-Paraná. Mas só deram Primeira agora, quando a Aneel, depois de uma "consulta" demorada às multinacionais do setor, decidiu: "A Cemig pode participar do leilão". (Podem dizer doação-desnacionalização, fica muito melhor).


Quando saiu o edital para essa doação, a restrição inacreditável imposta de fora para dentro: "Nenhuma estatal brasileira pode concorrer". É evidente: a proibição atingia diretamente a Cemig, uma das potências do setor. Ninguém protestou, os maiores órgãos de comunicação se esconderam, quem podia protestar, gritar, defender a Cemig, ficou de fora.


Agora a Aneel "voltou atrás", permitiu que a Cemig participasse desse "leilão" de quarta-feira. Aí os jornais amigos deram Primeira, mas não explicaram o verdadeiro objetivo. A Cemig "pode participar", mas fazendo parte de "um consórcio". Vejam os que vão concorrer: Duke Energy, AES e NRG, EUA, EDF da França e EDP de Portugal. Como são todos estrangeiros, lá vai a tradução: a Cemig vai botar dinheiro bom em cima de multinacional.


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Como sempre dissemos (ou acreditamos) que Deus é brasileiro, basta verificar a qualidade e a quantidade de energia que existe no País, para referendar o conceito, de que "Deus é mesmo brasileiro". Mas se fizermos o raciocínio contrário, se colocarmos numa relação, tudo o que já doamos em matéria de energia, chegaremos a uma constatação diferente, mas rigorosamente atualizada: "Deus deixou de ser brasileiro"


Doamos-desnacionalizamos geradoras e distribuidoras de energia, seguimos todos os dogmas impostos ou exigidos pelos grupos multinacionais que controlam tudo. No mundo e logicamente no Brasil. Esse descalabro-calamidade começou no plano nacional, e logicamente atingiu o estadual, sem o menor constrangimento.


E o Brasil empobrecendo, perdendo o controle sobre o seu fabuloso patrimônio, seja ele de que setor for. As multinacionais enriquecendo, desempregando cada vez mais, e aumentando as tarifas, violentamente. A Light, que ganhou quinhões fabulosos no Rio e em São Paulo, (e vai ganhar muito mais) em matéria de tarifas, é uma espécie de James Bond. Este tem licença para matar, a Light tem licença para aumentar, o que vem a dar no mesmo.


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Alguns mais despudorados, aparecem em público, e dizem descaradamente: "A crise de energia é um reflexo e uma conseqüência do crescimento do País, do seu desenvolvimento acelerado". Essas afirmações são lidas ou ouvidas a todos os momentos, e muita gente acredita. Mentem mais do que ACM-Corleone e José Roberto Arruda.


Não existe o menor sinal de DESENVOLVIMENTO, por mais distante que seja. As multinacionais que dominam tudo, trabalham realmente mais em alguns setores, produzem mais e com desemprego total, com restrição salarial impressionante. Por que isso? A razão é muito simples: a população aumentou bastante nos últimos 10 anos, isso foi revelado ontem pelo IBGE. Hoje somos praticamente 170 milhões de pessoas, individualmente ganhando menos a cada dia.


As multinacionais cada vez trabalham mais, exportam mais, exploram mais, enviam mais lucros (em dólares, claro) para o exterior e tudo isso reflete negativamente sobre o País. Basta verificar os déficits da balança comercial. Cresce a tonelagem física, caem os preços, as multinacionais exportadoras ganham sempre mais, no que pode ser identificado assim


EXPORTAR É A MALDIÇÃO


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PS – O artigo acima foi publicado em 10 de janeiro. Portanto há 7 meses. Engenheiros de grande importância e espírito público estavam preocupadíssimos com o problema, se estarreciam com a ausência do governo. Doaram-privatizaram as gigantes do setor, depois se justificavam, alegando desconhecimento. Não era apenas desconhecimento, era desinformação. Esses engenheiros me abasteciam de notícias, tudo saía aqui.



PS 2 – Agora, querem fazer um feriado semanal, enquanto tratam de liquidar o que sobrou. Lerner "precisa" vender a Copel por causa de dinheiro para a campanha. Furnas, Chesf, Tucuruí foram salvas, ninguém vai entregá-las. Nem nesse governo que acaba, nem em qualquer um que começar.




Fim do controle será gradual e regionalizado


Ministro diz que as metas de consumo serão reduzidas por região ANGELA LACERDA RECIFE – O ministro de Minas e Energia, José Jorge, disse ontem que o fim do racionamento de energia elétrica será gradual e regionalizado, com a redução das metas de consumo por região. Atualmente a meta é a mesma, 20%, para o Norte, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Como o Nordeste enfrenta a situação mais crítica, deverá ser a última região a sair do racionamento e a ter autorização para aumentar o consumo.


O ministro também descartou a possibilidade de se fazer o controle sobre o consumo de energia elétrica – após o término do racionamento – por meio de aumento de tarifa. Segundo o ministro, o racionamento vai até o final de novembro, quando termina o período seco. Em dezembro, início do chamado "período molhado", de chuvas, será avaliada a nova situação hidrológica por região e a viabilidade de se começar a reduzir as metas de economia.


José Jorge afirmou que até o dia 15 de setembro está fora de cogitação a implantação do Plano B (que inclui os feriadões e apagões) feito, segundo ele, "para ficar na gaveta". Ele garantiu que o Plano B não prevê aumento de metas de consumo para consumidores residenciais, o que poderá vir a ser estabelecido para as grandes empresas.


O Plano B só será adotado se o nível dos reservatórios nas regiões afetadas chegar a um ponto porcentual abaixo da margem de segurança prevista pela Câmara de Gestão da Crise Energética (GCE). Anteontem, no Sudeste e no Centro-Oeste, o nível estava 2,76% acima da curva de segurança. No Nordeste, que depende de um único rio, o São Francisco, o nível estava 0,83% acima da faixa de segurança. Para piorar o quadro nordestino, o ministro observou que a região, no princípio com maior índice de economia que o Sudeste, apresenta agora uma redução de consumo menor que a outra região. Desde 4 de junho, início oficial do racionamento, até 13 de agosto, o Sudeste economizou 20,6% e o Nordeste 20,5%, sendo que na última semana o Nordeste economizou 19,8%, enquanto o Sudeste superou os 20% previstos.


Segundo José Jorge, a dificuldade de economia no Nordeste tem ocorrido por parte dos consumidores residenciais de maior poder aquisitivo, que gastam mais de 50 kWh; das pequenas e médias empresas e pela iluminação pública.


Nesta segunda-feira, o grupo operacional da GCE faz reunião de trabalho em Recife, no Palácio do Campo das Princesas, com a presença do presidente da Câmara de Gestão, Pedro Parente, do seu coordenador Euclides Scalco, do ministro José Jorge, do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) e de representantes da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) e distribuidora estadual Celpe. Estado 18/7


Eletrobrás quer obter US$ 500 mi do BID para obras emergenciais


DA SUCURSAL DO RIO A Eletrobrás está negociando um financiamento com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para tocar seu programa emergencial de obras nos próximos dois anos, informou ontem o presidente da companhia, Cláudio Ávila. O empréstimo poderá atingir US$ 500 milhões. "Esse é o limite do banco." Segundo Ávila, o BID mandou uma delegação na semana passada ao país para avaliar os projetos da Eletrobrás. Representantes da empresa irão à instituição mostrar o plano de obras no dia 27. "O BID deu sinais de que está disposto a voltar a investir na expansão do setor elétrico brasileiro." Se a verba da instituição sair, afirmou, a Eletrobrás deve rever seu plano de captação de recursos a serem usados nos projetos. Neste e no próximo ano, estão previstos investimentos de R$ 2,9 bilhões. Desse total, R$ 600 milhões serão recursos próprios da estatal. O restante será captado no mercado, via empréstimos no exterior, financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e emissão de debêntures. Mesmo afirmando que o BID dá prioridade aos financiamentos para a transmissão de energia, Ávila disse que os representantes do banco demonstraram simpatia em relação ao projeto de expansão da usina de Tucuruí (região Norte). Para Ávila, isso ocorreu porque ela não terá impacto ambiental, já que não será preciso ampliar o reservatório. O projeto, segundo Ávila, é restrito à aquisição de novas máquinas para aumentar a potência final da usina. Ávila disse ainda que a disputa entre geradoras e distribuidoras por causa do Anexo 5 deve ser resolvida pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Essa cláusula indica que, em caso de racionamento, as geradoras devem ressarcir as concessionárias. Folha 18/8



Governo age como em "jogo", diz Pinguelli


O professor Luiz Pinguelli Rosa, vice-diretor da Coordenação de Pós-Graduação de Engenharia da UFRJ, disse ontem que o governo continua agindo como se estivesse participando de um "jogo de cassino" na questão da crise energética. "O governo continua apenas "apostando"."


Pinguelli Rosa comentava a última medida do "ministério do apagão", que decidiu preservar a indústria e o comércio dos cortes em caso de ultrapassagem da meta de racionamento. Agora, só os consumidores residenciais são alvos dos cortes de luz.


"No fundo, quem dita essas normas é área macroeconômica, o ministro Pedro Malan (Fazenda) e o Pedro Parente ("ministério do apagão"). A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) não tem nada com isso. Entramos na crise porque eles jogaram. Agora, estamos comprometidos por três anos." (DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE)


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