JB – 04.12.97 Cataguazes-Leopoldina compra Energipe Grupo paga R$ 577,1 milhões por empresa, em leilão que teve o maior ágio de todas as privatizações do setor elétrico: 96,06%SÔNIA ARARIPE …

JB – 04.12.97



Cataguazes-Leopoldina compra Energipe

Grupo paga R$ 577,1 milhões por empresa, em leilão que teve o maior ágio de todas as privatizações do setor elétrico: 96,06%

SÔNIA ARARIPE


O grupo Cataguazes-Leopoldina, que já atua na área de energia elétrica na região da Zona da Mata, no sudeste de Minas Gerais, dirigido pelo empresário Ivan Botelho, arrematou ontem, por R$ 577,1 milhões, a Energipe, distribuidora de energia de Sergipe. O leilão pelo sistema de envelopes fechados foi realizado na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro: durou 10 minutos, e foi disputado por apenas mais um consórcio, reunindo a Coelba (distribuidora de energia da Bahia, privatizada esse ano para a operadora espanhola Iberdrola e para o fundo de pensão Previ, dos funcionários do Banco do Brasil) e a Companhia Vale do Rio Doce. O envelope com a proposta dos perdedores apresentou um valor bem mais baixo, de R$ 359 milhões.

O resultado final foi comemorado com abraços e muito entusiasmo pelos representantes do governo de Sergipe, assim como pelos consultores e técnicos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Não é para menos. O ágio chegou a 96,06%, o maior de todas as privatizações de empresas elétricas. O preço mínimo da Energipe era de R$ 294,3 milhões. Sócios estrangeiros também participaram indiretamente do leilão. É que investidores internacionais, reunidos em um fundo de participações chamado FondElec (Fundo Latino-Americano de Energia e Eletricidade), de capital de US$ 140 milhões, compraram, em outubro, 23% do Grupo Cataguazes. O grupo mineiro fatura por ano R$ 130 milhões e com a Energipe passou a ter um universo de 600 mil consumidores de energia. Também a operadora de energia americana CMS, que já participa do FondElec, pretende tornar-se sócia da Energipe.

“Eles tinham saído na véspera, mas ligaram para informar que têm interesse”, revelou Maurício Botelho, diretor financeiro da Cataguazes e filho de Ivan Botelho.

Recorde – De acordo com estatísticas do BNDES, que coordena as privatizações, o maior ágio já registrado até hoje, na verdade, foi o da venda de participação da Companhia Química do Recôncavo, de 13.800%, seguido pelo da Mafersa, de 161%, e da Aços Piratini, de 150,4%. Economistas do BNDES explicam que esses ágios tão elevados foram registrados numa época em que as moedas podres tinham mais peso no leilão. “O resultado da Energipe é um ótimo sinal de que a empresa está bem e o Brasil continua atraindo investidores estrangeiros”, disse José Pio Borges, vice-presidente do BNDES.

O BNDES vai financiar a metade do preço mínimo da Energipe, ou R$ 147 milhões, e a BNDESPar, o braço de participações do banco, entrará ainda financiando uma operação de debêntures conversíveis em ações no valor de R$ 173 milhões. Maurício Botelho acrescentou que o grupo tinha uma sobra de caixa de R$ 17 milhões, e o restante, R$ 240 milhões, será captado através de um aumento de capital da Cataguazes.

“O mercado comemorou o resultado, mas agora quer entender como serão feitas essas duas emissões tão grandes das debêntures e o aumento de capital”, avaliou Sérvulo Lima, analista do Banco Bozano, Simonsen, especialista em energia elétrica.

O presidente da Coelba, o espanhol Bonifacio Alvarez de Paz, ficou decepcionado por ter perdido a Energipe. “Tentaremos a Cosern (distribuidora do Rio Grande do Norte) no próximo dia 12”, revelou. A Cataguazes também estará lá. “Vamos tentar também”, anunciou Ivan.




“O estado é muito arrumadinho”

Qual o atrativo de Sergipe, o menor estado do país para atrair um grupo capaz de pagar quase o dobro do preço mínimo pela distribuidora de energia elétrica? “Temos o maior consumo per capita de energia da região Nordeste, várias indústrias se instalando por lá e um povo trabalhador. Há pobreza, é claro, mas estamos investindo pesado para melhorar as condições de vida da população. Ivan Botelho fez um grande negócio”, responde o governador Albano Franco.

O governador de Sergipe explicou que a maior fatia dos recursos pagos pela Energipe (R$ 48 milhões) será utilizada para rolagem da dívida; R$ 35 milhões para o 13° salário e o restante para infra-estrutura e área social. Antes do leilão, Albano Franco anunciou que o estado, em parceria com a Petrobrás, garantirá o suprimento de 600 mil metros cúbicos de gás natural por dia se a Energipe quiser construir uma termelétrica, um investimento de R$ 70 milhões.

Segundo fontes do mercado, esse teria sido o combustível que faltava para trazer de volta a americana CMS para novo consórcio controlador da Energipe. A CMS chegou a desistir de participar junto a Cataguazes-Leopoldina na noite de terça para quarta-feira, mas ontem, depois dos mineiros terem arrematado o negócio, os americanos disseram que querem entrar de sócios.

Sem falar nos novos investimentos no estado, que certamente consumirão energia. A Brahma, por exemplo, acaba de inaugurar uma fábrica envolvendo R$ 185 milhões e a Companhia Siderúrgica Nacional pretende fazer uma unidade de pelotização envolvendo R$ 300 milhões.

“Sergipe é um estado muito arrumadinho. E temos outros interesses na região”, contou o novo dono da Energipe, o empresário mineiro Ivan Botelho, dono da Cataguazes-Leopoldina. Esses negócios envolvem investimentos em TV a cabo e em outros áreas de infra-estrutura, como água e saneamento. “Vi isso em uma empresa regional dos Estados Unidos. O mesmo funcionário que vê a luz pode também estar oferecendo água e outros serviços”, contou Ivan Botelho.

A Cataguazes, fundada em 1905 por um tio de Ivan Botelho, passará por uma verdadeira revolução nos próximos anos. Compraram a empresa de eletricidade de Nova Friburgo (RJ), por cerca de R$ 50 milhões, e os Botelhos acabam de vender uma fatia de 23% do controle do grupo para os americanos do FondElec. “Nossos projetos pretendem avançar nessa área de utilities não só em Minas, mas também no Nordeste”, explicou Maurício Botelho, filho de Ivan e diretor do grupo. (S.A.)



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