O plano e a realidade

Roberto Pereira D´Araujo

Vamos dar uma pausa na discussão sobre a “Pior crise Hídrica” e dar uma olhada no que imaginamos para 2021 no setor elétrico, o PLANO 2021 feito em 2011. Os dados do planejamento foram coletados no documento abaixo e os dados reais, alguns são dados oficiais da ANEEL e outros foram obtidos no mês de agosto de 2021 adotando médias nos devidos casos.

 

O gráfico abaixo resume essa comparação.

O que se percebe é que ocorreram “Surpresas e Frustrações”. Surpresa quando o valor supera o previsto e frustração quando ocorre o inverso.

  • Frustração de 17,7 GW médios do consumo = – 20%
  • Frustração de 8,4 GW nas Hidráulicas = -7,1 %
  • Surpresa de 8,3 GW nas térmicas = + 28%
  • Surpresa 2,7 GW na Biomassa = + 20%
  • Frustração de 1,5 GW na Nuclear = – 44 %
  • Frustração de 1,9 GW na PCH = – 27%
  • Surpresa de 2,3 GW na Eólica = + 14 %
  • Surpresa de 3,4 GW de Solar + Infinito (o plano não previa solar)
  • Surpresa de 4,9 GW no Total Instalado = + 2,6 %

O que chama a atenção é que para um consumo de 88 GW médios, o plano 2021 imaginava ser necessário 186,2 GW instalados. Isso significa que seria necessário 2,2 GW instalados para cada GW médio de consumo.

Mas a realidade, apesar de ter uma carga menor, 70,3 GW médios, precisou de 190,6 GW. São 2,71 GW para cada GW médio de consumo. 28% acima do previsto. Já vamos entender a razão.

A primeira observação é que, necessitando mais fontes, a realidade deve ser mais cara, o que “confirma” a explosão de tarifas brasileiras.

Examinando um pouco mais, percebe-se que houve frustração da ampliação de hidráulicas e surpresa no surgimento de usinas térmicas, que se ampliaram em quase 30% em relação ao previsto.

Chama a atenção a ausência de Angra III na realidade e a ausência de fotovoltaicas no plano.

Mas, a grande mudança é uma espécie de troca de hidráulicas por térmicas. Segundo dados da ANEEL, já temos 44 GW de térmicas! O número é diferente do gráfico porque a base de dados da ANEEL mistura térmicas que fazem parte do sistema interligado com térmicas que atuam em caso de falta de luz em certas industrias e comércio. Nem essa necessária coordenação temos!

Reparem que, em construção ou planejadas, continuamos agregando mais capacidade térmica. Eólicas e fotovoltaicas estão em construção, mas as térmicas continuam mantendo sua participação no entorno de 30%.

Enquanto não entendermos que usinas hidráulicas não são meras fábricas de kWh e são as únicas capazes de enfrentar a intermitência das solares e eólicas, vamos continuar pagando caro e esvaziando reservatórios.

  1 comentário para “O plano e a realidade

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *