ONS prevê que, no fim de outubro, patamar do subsistema Sudeste chegue a 19,9%; em 2001, ‘recorde’ foi de 21,3% – Estado de SP.

Comentário: Há sempre um pequeno detalhe não sendo revelado. Em 2001 a carga do sistema era 330 TWh. Em 2014 deve chegar a 540TWh. Portanto, ter 21,3% de reserva no Sudeste para atender 330 TWh é uma situação bem melhor do que ter 19,9% para atender 540TWh. Considerada apenas a reserva do Sudeste, como está na reportagem, esses 19,9% poderiam corresponder a 12,6% em 2001! Portanto, se o critério de 2001 foi estabelecer racionamento nessas condições, agora isso já seria mais do que justificável. 

A figura acima mostra o dado mais recente da base do ONS (Setembro). Por que não se decreta racionamento com essa projeção dramática de 19,9%? Porque, hoje, há uma grande capacidade térmica instalada extremamente cara e que, no planejamento, foi considerada oferta de energia para ser substituída por energia hidráulica. Quando se faz isso sem reconhecer que o sistema está em desequilíbrio, usam-se as térmicas tarde demais e esvaziam-se reservatórios.

Apenas para mostrar que o que está ocorrendo no Rio S. Francisco não deveria ser surpresa, observe o gráfico abaixo. Barra azul – média de longo termo. Barra vermelha – Energia natural verificada. Linha pontilhada – tendência da energia natural de 2004 até 2014


André Magnobosco

A mais recente projeção do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para o volume de chuvas neste mês sugere que o nível dos reservatórios no subsistema Sudeste/Centro-Oeste, o mais importante do País, estará ainda mais baixo do que aquele registrado em 2001, ano do racionamento.

Em outubro daquele ano, já em meio à restrição da oferta de energia, os reservatórios chegaram ao fim do mês com 21,3% da capacidade, de acordo com levantamento elaborado pela Comerc Energia. Agora, o ONS revelou que os reservatórios da região podem atingir 19,9% da capacidade no dia 31 de outubro.

O número é divulgado semanalmente pelo ONS, portanto, pode passar por revisões até o fim do mês. De acordo com o levantamento da Comerc, desde 2000 o porcentual não ultrapassava a “barreira psicológica” dos 20%. Nesse período, o pior número já registrado foi o de setembro de 2001, quando o armazenamento dos reservatórios chegou a 20,61% da capacidade.

“Precisamos de um período de chuvas melhor neste ano, caso contrário o nível dos reservatórios tende a cair mais rápido nos próximos meses”, alerta o presidente da Comerc, Cristopher Vlavianos. O volume de chuvas tende a aumentar em novembro e alcançar o patamar mais significativo do ano entre os meses de dezembro e março.

A preocupação é que, com a proximidade do verão, o consumo de energia aumenta. Além disso, o chamado período chuvoso coincide com o momento de menor geração por parte dos projetos de biomassa e de usinas eólicas. “Temos uma perda de aproximadamente 5 mil MW médios de geração (eólica e por biomassa) e o acréscimo de 5 mil MW médios de consumo”, dimensiona o especialista.

Essa diferença é compensada historicamente por um maior volume de energia gerada em projetos hidrelétricos. O problema é que, para recuperar o nível dos reservatórios, o ONS precisaria limitar a atividade das hidrelétricas no momento de maior demanda.

Os reservatórios da região Sudeste/Centro-Oeste correspondem a 70% da capacidade de armazenamento do País. A segunda região mais importante é a Nordeste, com aproximadamente 12% da capacidade. Para esse mercado, o ONS projeta armazenamento de 15,1% ao fim de outubro, quase o dobro do nível de 8,4% visto em outubro de 2001.

O Plano de Operação Energética 2014/1018, documento obtido pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, sinaliza que o nível dos reservatórios na região Sudeste/Centro-Oeste pode chegar a 30% no fim de novembro caso a energia natural afluente (ENA) fique em 95% da média de longo termo (MLT) entre setembro e novembro. Na eventualidade de a taxa ficar em 84% da MLT, os reservatórios alcançariam 20,4%, enquanto que uma taxa de 113% da MLT elevaria o nível dos reservatórios para 43% da capacidade.

As estimativas do ONS indicam que somente um volume mais relevante de chuvas no período úmido entre o fim deste ano e o início de 2015 pode livrar o Brasil de adotar algum tipo de limitação no fornecimento de energia. “Se o governo não tiver como atender pela ponta da oferta, precisará ser feito algum ajuste pela demanda”, analisa Vlavianos.

Na visão do especialista, o governo deveria ter adotado medidas de incentivo à redução do consumo desde o início do ano, quando o volume das chuvas já se mostrava abaixo da média histórica. “Não podemos contar que a chuva virá, por isso precisamos ter outros mecanismos. Antes de criar uma situação obrigatória (de redução de consumo), poderia ter sido criada uma situação voluntária”, diz Vlavianos. “Antes de o governo decidir despachar térmicas com custo de R$ 1.000/MWh, era possível dar um prêmio para quem reduzisse o consumo.”

 

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