Pintou Sujeira – O Globo

Coluna do Lauro Jardim:

A matriz energética brasileira caminha para ficar mais poluente. Os números oficiais são claros. Dos 203 empreendimentos em construção, 28% são de termelétricas e somente 14% de hidrelétricas. E quando se olha os 380 já outorgados, mas que ainda não iniciaram a construção, a coisa é ainda pior: 39,7% são termelétricas, enquanto magros 8% são de hidrelétricas.


Se, algum dia, a imprensa brasileira quiser saber porque um país com tantos recursos naturais suja sua matriz energética com térmicas caras, é só prestar atenção nos seguintes 13 passos:

  1. Depois do racionamento de 2001, o consumo total de energia elétrica caiu 15%. Quem não se lembra do desligamento dos freezers?
  2. Isso gerou uma sobra circunstancial que, com o modelo que adotamos desde 1995, fez os preços do mercado livre despencarem.
  3. A Eletrobras, apesar de ter preços de contratos de longo prazo mais baixos, foi descontratada para que o mercado livre funcionasse.
  4. Só que, no sistema brasileiro, usinas hidráulicas têm que gerar mesmo sem contrato, pois são operacionalmente mais baratas.
  5. De 2003 até 2008, o mercado livre se “lambuzou” de energia quase gratuita que vinha principalmente das usinas da Eletrobras.
  6. Com exceção de um pequeno susto em 2008, esse festival de preço baixo no mercado livre durou até 2012.
  7. Quando uma parte de consumo de energia (25%) pode se aproveitar de um mercado onde, conjunturalmente, os preços são baixos, eles não querem fazer contratos de longo prazo.
  8. Sem contratos de longo prazo não se constroem hidroelétricas.
  9. Esses 25% do consumo brasileiro não contrataram sequer uma usina de porte para atendê-los.
  10. Quais foram as soluções? Fazer sociedades onde a Eletrobras é minoritária para “animar” o setor privado a investir. Prejuízo para a estatal, mas, se não fosse ela, certamente estaríamos em racionamento.
  11. Fazer leilões abertos para novas usinas deixando o “mercado” escolher as formas. Resultado? Térmicas caras.
  12. Essas térmicas não ajudam os reservatórios. Como são caras, mas fazem parte da “oferta”, quem gera no lugar delas são as hidráulicas. Até a ativação dessas usinas, já se gastou muita água guardada nos reservatórios.
  13. Por isso não conseguimos mais encher os reservatórios. A culpa não é de São Pedro. Por isso estamos com uma tarifa que é uma das mais caras do planeta.

Conclusão: Nenhum país pode “carregar nas costas” um pretenso “mercado livre” que não alavanca investimentos sem pagar MUITO caro por isso. Tudo o que está dito aqui pode ser comprovado por dados concretos.

 

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