O Ilumina mostra, no vídeo abaixo, dados que contestam a visão de que a privatização de algumas atividades estatais tenha proporcionado os benefícios que o atual governo proclama ao propor um novo período de desestatizações.
É preciso reconhecer que processos de privatização envolvem muitas políticas públicas que sequer foram estudadas no Brasil. Entre essas, o caso da Eletrobras chama a atenção, tal o nível de desinformação usado para justificar sua venda. A estatal tem, até hoje, sob sua responsabilidade políticas públicas e casos especiais, tais como Itaipu e Nucleares que não se encaixam em nenhum procedimento puramente financeiro.
Privatizar não pode se limitar a simples venda de ativos. Países com sistemas semelhantes jamais privatizaram totalmente seu setor. O Brasil tem muito mais razões para não fazê-lo.
Parabéns ao ilumina. Excelente o vídeo. Vou divulgá-lo a quantos puder, para o máximo de pessoas possível. É pena, porém, que a grande maioria das pessoas “não dá bola”.
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Incrivelmente, temos, no Brasil, uma montoeira de pessoas capazes de, por exemplo, se enfurecer com os salários pagos aos funcionários públicos. Ainda que alguns salários sejam realmente muito exagerados e mereçam ajustes, os da grande maioria do funcionalismo, no entanto, não passam de salários normais e mesmo que não aparentem isso, estão, na verdade, abaixo do que deveriam valer.
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Um enfurecimento irracional que faz com que essas pessoas reajam, indignadas, afirmando que o salário do funcionalismo público é pago com os impostos que o governo lhes cobra. O que não deixa de ser verdade, em parte, pelo menos.
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Porém, quando governos como os de FHC, MiShell Temer, Jair Bolsonaro – até mesmo os do PT andaram fazendo isso – entregam nossas riquezas a preço vil, para dizer o menos, essas mesmas pessoas, que se enfureceram com os salários pagos a funcionários públicos, não demonstram o mínimo interesse.
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Como se tais riquezas não fossem delas também ou não tivessem sido criadas com os impostos por elas pagos. Como se a privatização não fosse “arder” nelas dali a pouco.
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Eu só discordo do título do vídeo “O Brasil não sabe fazer”.
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Primeiro. Porque, na minha visão as privatizações nunca tiveram o fim de garantir o que a propaganda prometia: oferecer ao povo produtos e serviços de melhor qualidade a preços e tarifas menores. O objetivo, nunca confessado, sempre foi o de abrir espaços para que o grande capital pudesse amealhar mais lucros.
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Premido em sua capacidade de ampliar lucros no setor de produção de mercadorias, devido à crise insolúvel em que se meteu o capitalismo, crise que é fruto da própria lógica do sistema, o grande capital passou a se assenhorear dos espaços públicos/estatais para recuperar sua taxa de ganhos. Passou a enxergar o setor de serviços e os que ainda estavam sob posse pública como a “salvação da lavoura”, a “válvula de escape” que garantirá sua sobrevivência por mais algumas décadas.
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É claro que a sobrevivência do grande capital se fará com desgraças sempre maiores para a grande maioria da população do planeta. E os dados mostram isso de forma contundente. Depois de mais de 40 anos de privatizações – talvez o principal componente do ideário neoliberal para a economia – o que temos no mundo é uma desigualdade abismal: 1% da humanidade já detém uma riqueza maior que os restantes 99%. Algo extremamente absurdo sob qualquer viés que se possa olhar.
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Segundo. Porque creio que não é questão de saber ou não saber fazer. No mundo inteiro – em países nos quais as coisas funcionam, como se costuma dizer, onde acreditamos que saibam fazer as coisas de forma mais adequada, Alemanha, França, Inglaterra, etc, vemos centenas e centenas de privatizações sendo revertidas e os setores ou serviços a serem reestatizados.
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Qual o motivo? Depois de caírem no conto neoliberal, os povos desses países passaram a notar que o tempo passava e o prometido pelos privatistas não se concretizava. Até que esses povos se convenceram de que não havia como a promessa ser cumprida.
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A meu ver, se levarmos em conta todas as variáveis envolvidas, não há milagre que faça com que uma empresa privada consiga oferecer um determinado serviço a preço mais justo e com melhor qualidade que uma empresa pública. A explicação tem a ver com a finalidade de uma empresa pública e a prioridade de uma empresa privada. E nem a mais rígida agência regulatória ou o mais rígido controle governamental vai conseguir mudar isso.
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Estou aqui a defender a estatização de tudo? Não. Só estou afirmando que, para o bem da esmagadora maioria da população de um país, inclusive para a grande maioria do empresariado privado, empresariado capitalista, que é formada de micro, pequenos e médios, há setores que têm que ser públicos.
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A entrega dos mesmos em mãos privadas só vai onerar o custo de vida das pessoas e o custo das empresas enquanto gera lucros fabulosos para uma ínfima minoria que não chega a comportar perto de 1% da população. O que só vai turbinar ainda mais os dados escandalosos da desigualdade mundial que citei acima.
Nelson
Agradeço seu comentário e concordo com todos os aspectos que você lembra. Só chamo a atenção de que políticas simples poderiam ser adotadas para garantir pelo menos o comprometimento do capital privado com o futuro. Por exemplo: Quer comprar uma usina ou uma linha pronta, funcionando e faturando? O contrato de concessão amarra duas coisas: A usina pronta e uma outra no futuro. Análise de viabilidade realizada e firmada em contrato. Por acaso não cumpriu o contrato sem uma justificativa bem fundamentada? Perde a concessão da usina pronta. O grande problema nas privatizações de países como o Brasil é o fato de que precisamos cada vez mais energia e que os sucessivos governos acreditam num “coelhinho da pascoa” do capital privado.
Há pouco, eu lia uma matéria publicada ontem que dá conta de que o governo de Jair Bolsonaro “vendeu”, por R$ 500 milhões, um parque eólico localizado aqui no sul do meu Rio Grande. Detalhe: segundo a matéria, a Eletrobrás investiu R$ 3,71 bilhões na construção do parque.
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Tal como aconteceu com inúmeras outras privatizações. Na construção da empresa, o investimento foi socializado. Tirou-se dinheiro de milhões e milhões de brasileiros por meio dos impostos para a construção do parque. Agora, depois de consolidado o empreendimento, entrega-se-o para um grande grupo privado por menos de 1/5 do que nele foi investido.
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Para mim, isso nada tem a ver com não saber fazer. Tem a ver com safadeza, com má fé mesmo. Tem a ver com pilhagem, com rapinagem. Tem a ver com butim. Quem fez esse negócio, assim como nas privatizações de FHC e de Temer, o fez sabendo muito bem o que estava a fazer.
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Eu costumo fazer uma analogia com os filmes de piratas. Nesses filmes, os piratas assaltam um navio, roubam suas riquezas e logo escapolem para seu esconderijo. Lá, em meio a muito rum, eles sentam-se para repartir o butim. Essa riqueza vai para o fulano, aquela para o sicrano, a outra para o beltrano e assim sucessivamente. Aglo muito parecido, se não idêntico, foi feito nos governos FHC e Temer. Assaltaram o poder e agora estão a repartir o butim entre eles. Esta estatal vai para o fulano, aquela reserva de água vai para o beltrano, o campo de petróleo tal vai para o sicrano, etc, etc.