Publicada em O GLOBO em 02.02.98
Enquanto a ANEEL nada faz e a mídia que apoiou apaixonadamente a privatização fica embaraçada com a ineficiência da LIGHT e CERJ, é preciso lembrar o seguinte:
1. A LIGHT foi privatizada com as tarifas recuperadas e gerando lucro, caso contrário o setor privado não se interessaria pela compra. O que ocorre é que o grupo que a adquiriu espera um retorno incompatível com
os serviços públicos que deveriam prestar. Simplesmente não estão satisfeitos com a rentabilidade típica de empresas distribuidoras. Querem mais! Como ninguem fiscaliza, reduzem custos sem compromissos com a qualidade.
2. Associar as interrupções ao aumento do consumo é uma piada! Será que estamos vivendo nosso primeiro verão? Será que apenas o Rio de Janeiro comprou novos aparelhos de ar condicionado? Porque o mesmo não ocorre em
Belo Horizonte?
3. Dizer que as interrupções se devem à falta de oferta de energia é de um ridículo sem par. Se o problema fosse a oferta de energia, o quadro calamitoso do Rio de Janeiro seria generalizado, pois o sistema de transmissão integra todos os mercados da região sudeste. Nesse caso não teriamos interrupções e sim racionamento, o que seria muito mais grave.
4. O contrato de concessão da LIGHT é um presente de pai para filho pois garante a manutenção da margem de lucro da empresa sem repassar ganhos de produtividade aos consumidores por 8 anos! A Light compra energia de
FURNAS a 35 $R/MWh e vende a 160 $R/MWh. Esta margem e esse preço são com certeza os mais altos do mundo e 160 $R/MWh chega a ser comparável à geração por diesel, reconhecidamente a forma mais cara de geração de
energia elétrica.
5. Na realidade as interrupções da LIGHT e CERJ são devidas à política de cortes de pessoal na área de manutenção, preferindo terceirizar através de empresas cuja única qualificação é pagar salários bem inferiores aos auferidos pelos antigos técnicos da Light, hoje desempregados.
Roberto Pereira D, Araujo*
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o Eng. Roberto Pereira D’Araujo é associado do ILUMINA