Será que foi a Greta Thunberg? – Artigo

Roberto Pereira D’Araujo

Como muitos outros temas, a questão ambiental também é tratada com radicalismo no Brasil. Se alguém acredita no aquecimento global é imediatamente transformado num inimigo dos que negam e vice-versa. A menina Greta, com apenas 16 anos, virou símbolo de amor e ódio!

Eu tendo a achar que devemos afetar alguma coisa nesse gás chamado atmosfera, pois a troposfera, que é a parte que usamos, só tem 22 km de altura. Seu volume representa menos de 1% do volume do planeta. Achar que desde o início da industrialização tudo o que foi jogado nesse gás não afeta nada, parece contestável.

Mas, vamos deixar a celeuma planetária de lado e entender que, para nós, a questão é outra.

A figura acima mostra o que seriam os chamados “rios voadores” que estariam sendo afetados pelo desmatamento crescente na Amazônia. Ao invés de ficar discutindo se tem ou não tem efeito, pelo menos para o setor elétrico, é bom prestarmos atenção no seguinte:

Os gráficos a seguir vieram do site do ONS (operador nacional do sistema). Eles mostram a “energia natural” (afluências dos rios turbinadas transformadas em energia MW médio) dos 4 sistemas (período 2000 – 2019).

A MLT é a “média de longo termo” de todo o histórico de vazões (80 anos). É uma energia média associada a vazões muito variáveis e que podem ser regularizadas em parte pela otimização do nosso sistema interligado.

Atençao! Ela não é a “Garantia Física”, GF, uma quantidade de energia inventada por um complexo modelo matemático baseado num histórico estendido das afluências. Essa GF é a energia que as usinas podem comercializar e está na estrutura básica do modelo mercantil.

Região Sul:

Aproximadamente, a região sul tem apresentado um comportamento mais estável com 110% da MLT ( ~ 7GWmed)

Região Norte

A região norte tem apresentado desde 2015 uma redução de vazões. Reparem que, mesmo antes, a média registrada (2000 – 2014) era 93% da MLT. Depois de 2015, houve uma redução de 31% da média. Em termos energéticos é como se contássemos com menos 1,2 GW médio nesse sistema.

Região Nordeste

Os números da Região Nordeste são impressionantes! Desde 2000 a energia natural já representava apenas 82% da MLT. A partir de 2013 esse valor cai para 45%! É como se perdêssemos 4,4 GW médios.

Região Sudeste e Centroeste

O caso da região Sudeste e Centroeste é ainda mais grave, porque a energia associada a MLT está no entorno de 33 GW. Como depois de 2014, a média está 85% da MLT, tudo se passa como se 5 GW médios tivessem sumido!!

Portanto, a perda estimada em relação a MLT é aproximadamente 10,6 GW med (parece pouco, mas são mais de 90 TWh = 90.000.000.000 kWh). O total associado à MLT dos 4 sistemas seria 52 GWmed e, portanto, uma redução de mais de 20%!

O que muitos não percebem é que a expansão dos últimos anos contratou muitas térmicas caras. Por incrível que pareça, ter essa “oferta” bem mais cara do que a hidrogeração, acaba exigindo mais geração hidráulica. Além disso, como os técnicos do sistema sabem, as hidráulicas estão com déficit de geração que vai gerar uma conta no futuro. Diminuir a geração agrava ainda mais a situação. 

A nossa sorte (ou azar) é que a crise econômica está praticamente estabilizando o consumo de energia desde 2014, como pode ser visto no gráfico de geração total em MW médios.

Isso mostra outro número preocupante! Em relação ao consumo total, 65 GW médios, a mudança das afluências significa uma redução de energia de 16%!

Enquanto isso, as autoridades de todos os governos desde 1995, quando o modelo foi adotado, não conseguem entender que a tarifa brasileira só fica mais cara. Até a Agência Internacional de Energia já mostrou que, considerando paridade do poder de compra, a tarifa brasileira é a 3ª mais cara do planeta.

O consumidor residencial, tonto com tanta confusão (GSF, MRE, Risco Hidrológico, CDE, ESS, Lastro e outras) nem tem como se defender. Pior! Com todo esse quadro ainda criam problemas para consumidores que pretendem instalar fotovoltaicas para capturar energia do sol! Chega a ser inacreditável!

E aí, é como se a menina Greta nos perguntasse:

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