Setor de transmissão ganha a preferência dos investidores – Valor

Análise do ILUMINA: Quando mostramos dados concretos inéditos no planeta de destruição de valor decorrente da medida provisória 579, a que falhou em reduzir a tarifa de energia, muitos acham que estamos apenas fazendo uma defesa corporativa da Eletrobras.

Poderia até ser apenas isso, mas, como a reportagem relata, a Eletrobras “sumiu dos leilões” e, o país bufão da economia mundial vai assistir passivamente o aumento da taxa de retorno de 10% para 20% na transmissão. Traduzindo para o consumidor comum: Aumento de tarifa.

Abaixo a situação atual no exemplo da pequena indústria que não consegue fugir para o mercado livre. Só 108% de aumento REAL desde 1995! O gráfico não inclui impostos!

Também nesse cenário, o velho equívoco fundamentalista de que competição reduz preços. No Brasil, só é verdade se houver um paradigma do tipo Eletrobras ou muito BNDES. Como a primeira está moribunda e o segundo anda fazendo contas, vai sobrar para o cidadão.


Camila Maia e Rodrigo Polito

O setor de transmissão de energia brasileiro, que durante anos, viveu uma escassez de recursos, é o novo alvo preferido de investidores dos mais variados países e segmentos de atuação com foco em infraestrutura.

Se, no passado, a Eletrobras dominava os leilões de transmissão com as chamadas “taxas patrióticas de retorno”, o cenário mudou completamente. A estatal, que tenta reduzir seu endividamento, sumiu dos certames, assim como as espanholas Abengoa e Isolux, que também enfrentam crises. Aproveitando esse vácuo, entraram no setor fundos de investimento, gestoras, construtoras e empresas de geração e distribuição de energia, atraídas pelas elevadas taxas de retorno pagas nos projetos.

Apenas no ano passado ganharam presença forte nesse setor as gestoras Brookfield e Pátria, as empresas de energia Equatorial e EDP Energias do Brasil, além do BTG Pactual. Para os próximos certames, são esperados investidores de países como Inglaterra, Japão, Índia, Itália e China, além de outras empresas tradicionais de energia, como a Engie e a Neoenergia.

A tendência para o próximo leilão de transmissão, segundo o Valor apurou com diversos investidores e especialistas, é que o forte interesse seja mantido. Há, inclusive, quem arrisque que o certame, que pretende contratar R$ 12 bilhões em investimentos, terá mais competição que o anterior, realizado em outubro ­ quando foram contratados R$ 11,6 bilhões em investimentos.

Em estudo obtido com exclusividade pelo Valor, a consultoria americana L.E.K. destaca que o setor de transmissão vai precisar do valor nada modesto de R$ 70 bilhões em investimentos nos próximos três anos. Para garantir os contratos e resolver de vez o problema dos gargalos de transmissão do país, as taxas de retorno continuarão elevadas, atraindo cada vez mais investidores. É o caso da canadense Brookfield, que já tem, em seu portfólio, 4,2 quilômetros de linhas de transmissão em construção, que exigirão cerca de R$ 9 bilhões em investimentos até 2022, quando entrarão em operação.

O Pátria também deu um grande passo nesse mercado. A gestora de private equity saiu do leilão de transmissão de abril do ano passado com o maior lote oferecido, com receita anual permitida (RAP) de R$ 405 milhões. O investimento previsto é de R$ 2,5 bilhões, sendo que a gestora vai aportar R$ 1,250 bilhão de recursos próprios ­ em evidência do seu compromisso com o segmento. Segundo fonte próxima da situação, esse é o maior investimento individual que o Pátria realizou em um setor.

No leilão de outubro, o Pátria foi discreto, arrematando apenas um lote pequeno com RAP de cerca de R$ 40 milhões e investimento de R$ 211 milhões. Como a competição foi mais acirrada, com disputa entre mais de um interessado por alguns lotes, a opção foi por cautela. “O Brasil precisa dessa infraestrutura e o governo começou a tomar medidas que achamos que vão ajudar a aumentar a rentabilidade dos projetos e o retorno dos acionistas”, disse, ao Valor, Paulo Vandor, um dos sócios da L.E.K. que assinou o estudo sobre transmissão, junto de Fábio Zaffalon. Segundo Vandor, além de empresas financeiras, o cenário também é favorável para os investidores estrangeiros, pois grande parte dos grupos brasileiros com capacidade de competir nos leilões passa por situação financeira complexa ­ o caso das estatais do setor elétrico, por exemplo. “Além disso, o BNDES, que era tradicional financiador, está reduzindo o volume de crédito para o segmento. Fica mais caro para os investidores locais participarem. Isso cria um cenário ainda mais favorável para investidores externos”, afirmou.

Os cálculos da L.E.K. apontam que será necessário crescimento de 68% nas linhas de transmissão no país até 2024 em comparação com os níveis de 2014, ou 85 mil quilômetros. Ao mesmo tempo, a relação entre RAP dos ativos e investimento necessário saiu de um patamar de 10% para 20% nos leilões mais recentes, ajudando a atrair novos investidores. Há ainda espaço para que os empreendedores melhorem as taxas de retorno, dependendo da capacidades de implementarem os projetos com maior eficiência. “A competição pode vir, mas, ao mesmo tempo, os parâmetros de cálculo da receita continuam subindo. Apesar dessa competição mais agressiva, ela vai ser mais ‘racional’, e com retornos maiores, no mínimo iguais aos do leilão passado”, afirmou Zaffalon.

Na opinião de Vandor, investidores com perfis bastante diferentes têm demonstrado interesse em transmissão no Brasil, como produtores de equipamentos que podem participar com capital e investidores financeiros que têm interesse em menor risco. “Um perfil que também tem sido recorrente são as joint ventures. Temos visto alguns ‘players’ com presença no Brasil em geração se aliando com investidores estrangeiros ou fundos de infraestrutura para investir em transmissão”, disse Zaffalon.

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