ÉTICA DO BLECAUTE OU O BLECAUTE DA ÉTICA Olavo Cabral Ramos Filho 18 de Março de 1999 Bertrand Russell quando muito criança, orfão de pai e mãe, criado pela avó, perguntava-lhe …

ÉTICA DO BLECAUTE OU O BLECAUTE DA ÉTICA


Olavo Cabral Ramos Filho


18 de Março de 1999



Bertrand Russell quando muito criança, orfão de pai e mãe, criado pela avó, perguntava-lhe chamando-a de mãe: " Mãe ! O que é matéria ?" . Resposta: " Não tem importância !" . " Mãe! O que é mente ?" . Resposta: " Não ligue pra isso ! " A tradução prejudica, pois o jogo de palavras em inglês é que fazia a diferença e a graça sutil: " Mother ! What is matter ?" Resposta: " No matter! ". " Mother! What is mind ?". Resposta: " Never Mind !" . Bertie, ao longo da sua vida não seguiu as irônicas recomendações da avó. Deu importância a muitíssimas coisas e preocupou-se permanentemente, até morrer aos 98 anos, com o problema da mente, da estrutura do caráter, com o comportamento ético do homem. Em certo momento dos anos cinqüenta, Russell revendo conceitos incluídos no livro Ensaios Filosóficos, publicado em 1912, disse, no prefácio da reedição, que não acreditava mais em ética objetiva como tinha acreditado quarenta anos antes.


Quando participamos e nos engajamos nas discussões sobre o futuro brasileiro no grande, médio e pequeno atacados e no grande, médio e pequeno varejos, enfim no macro e no microcosmo da vida dos brasileiros, concluímos pela absoluta prioridade da necessidade de caminharmos em direção a uma mutação (bastando ser moderada para começar !?) da estrutura do caráter. Não que devamos fazer um seminário internacional, ambicionando resolver definitivamente se a ética é objetiva ou não, ou sua condição dialética ou metafísica, real ou abstrata, importante ou desprezível… Nem mesmo gerarmos toneladas de " lixo intelectual" (como dizia Bertie) puritanizado.

Entretanto, ficando só no varejinho nacional dos blecautes elétricos brasileiros, já temos matéria suficiente para nos preocuparmos. Daremos alguns exemplos:


– O jornalista de "esquerda-escassamente-libertária" de vela na mão na tela da televisão, verbalizando alguns fatos concretos um tanto óbvios, deixando nas linhas e entrelinhas mal traçadas uma permanente admiração pela implantação das "reformas estruturais do milênio neo-liberal brasileiro" e pelo seu condutor presidente.


– O histórico comportamento dos altos e médios dirigentes estatais, fisiologicamente escolhidos para seus cargos, que se manifestam com a usual exagerada soma de mediocridade, ignorância, falta de imaginação e má fé.


– Profissionais de engenharia, com extenso currículo, contudo não especialistas em sistemas de transmissão em extra alta tensão, elaborando diagnósticos técnicos publicados na imprensa, que o público leigo suporá completíssimos e impecáveis, incluindo hipóteses, com mais ou menos ênfase, equivocadas ou incompletas, que poderiam ser evitadas com uma simples consulta e discussão com seus colegas especialistas. Principalmente se esse profissional é notório opositor do regime vigente e ainda faltassem dados sobre as causas do evento.


O contexto e a barbárie são os mesmos que, ao paroxismo, preponderaram obviamente e sem surpresas nos estados totalitários de direita e nos estados totalitários de esquerda, não tão obviamente, mas sem surpresas para inúmeros militantes libertários, entre eles Russell.




























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