Roberto Pereira D’Araujo
Há muita gente que não gosta muito de metáforas, mas, no Brasil, por vezes, temos que usar uma analogia para poder explicar o óbvio.
A Eletrobrás significou para o país muito mais do que um pneu estepe, mas, depois de seu uso em tantas intervenções em defeitos externos à estatal, é preciso explicar que estamos prestes enfrentar esse terreno sem ter sequer a função “estepe” da Eletrobrás.
É um exagero dizer que a Eletrobrás foi usada como pneu estepe numa estrada esburacada? Entendemos que não. Apesar de já termos mostrado esses percalços aqui algumas vezes, não custa mostrar os “buracos” que a estatal teve que enfrentar. Atenção! Os “buracos” não foram criados pela Eletrobrás! Chamamos a atenção para os itens em Negrito.
- Uma privatização pela metade e um modelo mercantil mimetizado e repleto de indefinições. (1995)
- Distribuidoras rejeitadas empurradas para a Eletrobrás.
- Investimentos das estatais interrompido.
- Racionamento. (2001)
- Preço de curto prazo explode.
- Contabilização no mercado interrompida, inadimplência e necessidade de intervenção do estado, inclusive com financiamento BNDES.
- Aumento tarifário para recompor receita das distribuidoras com a queda do consumo. (2003 – 2004)
- Manutenção da descontratação (principalmente da Eletrobrás) apesar da queda da demanda.
- PLD assume valores mínimos e causa prejuízo às usinas hidroelétricas da Eletrobrás descontratadas, gerando e proibidas de atuar no mercado. (2003 – 2007)
- Proliferação de encargos antes inexistentes.
- Crescimento acelerado do número de agentes no mercado livre atraídos pelos preços baixos.
- Contratos de curto prazo prevalecem em função dos preços formados com base no custo marginal de operação.
- Mercado livre não participa da sustentação da expansão com contratos de longo prazo.
- Mercado cativo assume sozinho o papel de contratante de longo prazo.
- Subsídios para consumidores especiais no mercado livre transpõe custos para o mercado cativo e para outros.
- Garantias físicas dão sinais de estarem superestimadas. Revisões apenas pontuais.
- Leilões de energia de reserva (encargo). (2008)
- Contratação de grande quantidade de térmicas.
- Implantação das parcerias com a Eletrobrás para sustentar a expansão. (2008 – 2014)
- Tarifas continuam subindo. (2015)
- Mercado livre judicializado (2016)
- Adoção da MP 579 para reduzir tarifas às custas de ativos amortizados.
- Custos de O&M são definidos de forma exógena aos dados das usinas. Valores insuficientes para manutenção. Eletrobrás atingida. (2013 – 2018)
- Risco hidrológico apresenta déficit bilionários nas usinas hidroelétricas. Cerca de R$ 20 bilhões dependentes de ações judiciais. (2013 -2018)
- Autofinanciamento do setor reduzido praticamente a zero.
- Tarifas continuam subindo. (2019)
- Distribuidoras “empurradas” vendidas, mas com prejuízo para a Eletrobras e para a União.
- Privatização da Eletrobrás = aumento de tarifa (futuro)
O que é grave é que o motorista desse carro (consumidor) acha que o defeito não é da estrada, é do carro! Pior! Quando tem que usar o estepe (Eletrobrás), aceita a ideia de que o defeito é do estepe!
Como a estratégia do atual governo se resume a vender ativos e, já que o motorista aceita a “tramoia” de que o defeito é do carro e do pneu, vamos ficar sem o estepe. A promessa é que, de repente, vindo do nada, tudo será diferente e o “asfalto” será liso como mármore. Igualzinho ao lindo futuro que foi “vendido” na década de 90.
Preparem-se para ficar pelo caminho.
Com certeza! Mas há quem comemore achando que a culpa das tarifas altas é da Eletrobras estatal, o que é justamente o contrário.