Wilson Ferreira: “Não resta alternativa a não ser privatizar” – Correio Braziliense

Análise do ILUMINA: Comentários em vermelho após as respostas do presidente Wison Ferreira. O que espanta e vai muito além da questão do setor elétrico é essa estranha falta de curiosidade sobre os caminhos que levaram a essa situação. Uma sociedade que despreza a história é incapaz de traçar um futuro com um mínimo de credibilidade.

Amauri Segalla

entrevista Wilson Ferreira Júnior

São Paulo – O engenheiro paulistano Wilson Ferreira Júnior assumiu em julho de 2016 uma tarefa inglória: presidir a Eletrobras, a estatal à beira de um colapso econômico, com dívidas de R$ 50 bilhões e quatro anos seguidos de prejuízos no balanço financeiro. Para garantir alguma sobrevida à maior companhia de energia elétrica da América Latina, Ferreira cortou metade dos funcionários e instituiu um controle severo de gastos. O resultado foi um breve alívio nas contas da empresa, mas insuficiente diante da gravidade do problema. Por conhecer como ninguém a realidade da Eletrobras, Ferreira diz que só há uma saída para salvar a companhia: a privatização. Na entrevista a seguir, o executivo explica por que considera esse o único caminho possível.

O senhor defende a privatização da Eletrobras como o único caminho para a empresa. Por quê?

A Eletrobras precisa ampliar sua capacidade de investimento e garantir sua sustentabilidade no futuro. Isso só será possível por meio da desestatização, que permitirá à empresa atrair novos acionistas, com mais recursos. Hoje, a capacidade de investimento da companhia encontra-se bastante limitada.

No Brasil é assim, propõe-se uma solução como única porque, convenientemente, não se explica o que ocorreu com a empresa nos últimos 20 anos. Por trás da cortina da fragilização da Eletrobras, o “pujante” setor privado que vai nos salvar. Enormes ganhos privados e grandes prejuízos públicos. Essa é a trajetória que continuará a ser seguida e que pode nos levar à ruína.

Quanto a empresa precisa investir nos próximos anos para garantir algum nível de competitividade?

A Eletrobras detém hoje 31% da geração e 47% da transmissão de energia elétrica no país. Apenas para manter essa participação, a empresa precisaria investir R$ 14 bilhões por ano, nos próximos 10 anos, considerando o crescimento da demanda. A Eletrobras, no entanto, não dispõe desses recursos. A média de investimentos prevista para o período até 2022 está em torno de R$ 4 bilhões por ano. A União, que tem 60% do capital da companhia, não tem recursos para fazer esses investimentos. Logo, não resta alternativa a não ser desestatizar, diluindo a participação da União com a emissão de novas ações e atraindo outros investidores.

Competir? Será que é aquele processo que o setor privado pratica com subsídios do BNDES e com a ajudinha da própria Eletrobras? A empresa não tem recursos porque foi usada para “ajudar” o setor privado com parcerias minoritárias “mui amigas”. E o mercado livre, impulsionado com um verdadeiro Bolsa MW às custas da Eletrobras? Nada a comentar? É esse setor privado que precisou das muletas da Eletrobras que vai salvar o setor?

Se a Eletrobras for privatizada, como ficam as usinas hidrelétricas que funcionam no regime de cotas?

Esse é outro ponto importante. A companhia precisará de recursos para ter de volta 14 de suas usinas hidrelétricas que hoje operam no regime de cotas, desde a MP 579, de 2012. Essas usinas hoje vendem energia a um valor muito abaixo do mercado e o consumidor fica com o ônus do chamado risco hidrológico. Ou seja, se for necessário acionar as usinas térmicas por causa da estiagem prolongada, o consumidor, imediatamente, começa a pagar mais caro por meio das bandeiras tarifárias. O projeto de lei da desestatização devolve esse risco ao gerador, que tem mais condições de gerenciá-lo.  

Deixa ver se o ILUMINA entendeu. A Eletrobras vai precisar de recursos para “comprar” de volta as usinas que ela construiu? Bem, então o contribuinte é que vai pagar? Qualquer país sério anularia a MP 579, pois ela foi construída sem base contábil e com a intenção de reduzir tarifas sem mexer com o setor privado, que ficou quietinho vendo a Eletrobras ser destruída.

O que vai mudar na Eletrobras depois de uma eventual privatização?

O objetivo é transformar a Eletrobras numa grande corporação do setor elétrico, mantendo a União com menos de 50% do capital. Hoje, no mundo, quase todas as grandes empresas do setor são corporações. Dessa forma, a Eletrobras fica livre das amarras burocráticas de uma estatal, ganha agilidade e competitividade. Com capital privado e já beneficiada pelo processo de reestruturação em curso, a Eletrobras pode investir em novas tecnologias, sobretudo eólica e solar, que são o futuro da matriz energética brasileira. Uma gestão mais eficiente dos ativos da Eletrobras contribuirá para aumentar a segurança energética em todo o sistema elétrico nacional e expandir a oferta de energia a partir de uma empresa com capacidade financeira e boa governança. A Eletrobras será uma empresa mais ágil, eficiente e lucrativa.  

Quando uma coisa não pode ser achada no mundo, pode ter certeza que, aqui no Brasil tem. A jabuticaba é o país de base hidroelétrica que tem todas suas usinas na mão do setor privado. China, Canadá, USA, Noruega, Russia, Suécia, India todos têm controle estatal em suas principais usinas. O Brasil será o primeiro fora da curva. É….eles devem estar todos errados.

Não há o risco de, após a privatização, as tarifas ficarem mais caras?

De modo algum. O projeto de lei estabelece que um terço dos recursos da desestatização será para abater a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), um encargo importante que incide na conta de luz. Além disso, o consumidor ficará livre do risco hidrológico.  

Essa é ótima! O custo vai ficar mais caro, mas a conta de luz não! Quem vai pagar a diferença? O contribuinte. Sabem aqueles produtos básicos onde se paga muito imposto e atingem todos, principalmente os mais pobres? Pois é! É daí que sairá o dinheiro. Aguardem, porque há mais aumentos que sairão do armário, todos frutos do “eficiente” modelo que conseguiu fazer com que as tarifas dobrassem em valor real, esvaziar reservatórios e produzir apagões de 1/4 do país. 

Os críticos da privatização afirmam que ela traz poucos benefícios para a sociedade.

O projeto de lei que está tramitando na Câmara dos Deputados deixa muito claros os benefícios da desestatização. A nova Eletrobras proporcionará ganhos inequívocos: contribuirá para reduzir encargos sobre a conta de luz, vai tirar do consumidor o risco hidrológico, assumirá a responsabilidade de investir R$ 350 milhões por ano para recuperar o Rio São Francisco, aumentará investimentos, eliminará a necessidade de aportes do Tesouro na companhia e permitirá à União concentrar-se em suas verdadeiras vocações de provedor de saúde, educação e segurança. A União também poderá arrecadar mais dividendos e impostos, sendo que estes também serão partilhados com estados e municípios.

Interessante a menção dos dividendos! O Banco Central deve estar errado, pois registra que, de 2002 até 2016 a Eletrobras pagou R$ 14 bi de dividendos ao tesouro. É uma dessas coisas que só tem no Brasil. Teve prejuízo, mas pagou dividendos ao governo, o verdadeiro ineficiente.

Também gostamos muito dos tempos dos verbos: proporcionará, contribuirá, assumirá, permitirá….quanta promessa! Haja fé!

O senhor citou o Rio São Francisco. Poderia detalhar melhor como a privatização ajudaria na sua revitalização?

Um ponto extremamente importante é que o projeto de lei garante ainda recursos para a revitalização do Rio São Francisco, que atravessa sua maior crise hídrica. Pelo projeto, está previsto investimento de R$ 350 milhões por ano no rio, nos primeiros 15 anos, e mais R$ 250 milhões por ano nos 15 anos seguintes. Esses valores são até 17 vezes maiores do que se investe hoje na recuperação do São Francisco.

Haja fé!

O senhor considera o modelo de privatização definido para a Eletrobras como o ideal?

A desestatização se dará por meio de um processo de emissão de ações nas bolsas de valores que hoje negociam os papéis da Eletrobras: São Paulo, Nova York e Madri. A União, hoje majoritária, não venderá nem uma ação, mas sua participação será diluída. Por exemplo, se a empresa vale R$ 30 bilhões e a União, BNDES, BNDESPar e fundos setoriais têm juntos 60%, pode-se dizer que eles possuem R$ 18 bilhões. Se a emissão for de R$ 12 bilhões em ações, a Eletrobras vai se transformar numa empresa de R$ 42 bilhões. O governo manterá os mesmos R$ 18 bilhões e R$ 24 bilhões virão de novos investidores. Dessa forma, a empresa passa a ter capital privado. Para isso, além da aprovação do projeto de lei que está tramitando na Câmara, é preciso aprovar novas regras no estatuto da empresa.  

Coitado dos Estados Unidos que ainda não descobriram essa fórmula para resolver o seu problema fiscal, muito mais grave que o do Brasil. Poderiam fazer o mesmo com a Tenesse Valley Authority, a Bonneville Power e mais outras milhares de empresas pertencentes às prefeituras.

Que regras?

O projeto de lei prevê novas bases para a governança da companhia, como a limitação de 10% para o controle de capital (mesmo que o acionista tenha mais do que esse percentual em ações) e regras para indicação de assentos no Conselho de Administração. Determina ainda a criação de uma ação de classe especial, a golden share, para que a União tenha poder de veto em questões preestabelecidas de interesse nacional.

Governança não depende de privatização. Basta querer.

Se a Eletrobras não for privatizada, qual será o futuro da empresa?

Sem a desestatização, ela será incapaz de manter sua participação de mercado, visto que sua capacidade de investimento está comprometida.  

Vejam quão reveladora é essa resposta. Sequer se menciona os erros de política que destruíram a empresa onde esteve sempre presente o “pujante” setor privado. Bastaria uma pergunta: Porque se chegou a esse ponto? Se fosse respondida com profundidade e confiabilidade, ficaria claro que a Eletrobras não se “suicidou”! Sofreu um atentado.

O que está sendo feito para aliviar os problemas financeiros da empresa?

Várias ações vêm sendo tomadas nos últimos meses para aprimorar a gestão da companhia, como a redução do peso do seu endividamento, a eliminação de cargos gerenciais, a readaptação do quadro de pessoal, a racionalidade dos processos, o corte de custos. Além disso, estamos também privatizando seis distribuidoras de energia, para concentrar as atividades nos segmentos de geração e transmissão.  

Mais uma jabuticaba brasileira. Alguém conhece alguma empresa que para ser vendida se desfaça do seu capital humano? Só um louco anuncia a venda de uma empresa sem os funcionários independente de sua especialização. Na realidade vende-se as paredes, as turbinas, os reservatórios, os computadores, os banheiros…só.

O senhor continuará na empresa após a eventual privatização?

Quando o presidente Michel Temer e o ministro Fernando Coelho Filho me convidaram para essa missão, meu mandato foi estabelecido até abril de 2019. Meu foco então é trabalhar até o último dia na recuperação da companhia e no sucesso do plano de desestatização proposto pelo governo.

É bom começar a aprender mandarim.

 

 

 

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