Mitologia V: A dependência brasileira na hidroeletricidade será sempre uma ameaça.

Gráficos como os mostrados abaixo deveriam estar disponíveis na página do ONS. Os dados estão lá, mas, para obter essa simples comparação entre a energia natural (afluências totais traduzidas em energia) e a média de longo termo do histórico (MLT), é preciso fazer contas.

No gráfico é possível perceber que apenas nos anos 2001, 2003 e 2012 foram observadas energias naturais menores do que 90% da média (colunas vermelhas). Porque é importante mostrar esse dado tão básico?

  1. Porque não consta da página de nenhum dos órgãos envolvidos na gestão do setor (EPE, ANEEL, ONS, CCEE), apesar de ser revelador da situação de longo prazo da hidrologia.
  2. Porque há uma tendência das autoridades do setor em extrapolar o que ocorre agora em 2014 para o que ocorreu antes e “sugerir” que a situação atual é fruto apenas da falta de chuvas e não da gestão do sistema (operação e expansão).
  3. Porque parece não haver a consciência de que estamos sob um clima tropical e que variações bruscas de afluências são normais. Exemplo: O ano de 2008 começou com um Janeiro extremamente seco (66% da MLT) e terminou com 97% da média em termos anuais.
  4. Porque, apesar da reserva relativa à carga ter se reduzido pela não adição de reservatórios, o Brasil ainda é o recordista em capacidade de guardar água para geração elétrica futura.
  5. Porque, seria através da complementação de outras fontes (eólica, bagaço de cana, térmicas, políticas de conservação e geração distribuída) que se poderia retirar esse fardo dos “ombros” das hidráulicas.
  6. Porque, se já estivermos sob uma nova realidade ambiental mundial e o que estamos presenciando são novos números, é melhor nos adaptarmos para melhor gerir a nossa vida energética.

Para mostrar o que ocorreu com o uso das hidroelétricas desde o ano 1993, o gráfico abaixo mostra o Fator de Capacidade Médio (FC) do parque hidroelétrico brasileiro. É uma espécie de “taxa de utilização” das usinas. É calculado como a geração hidráulica anual total dividida pela capacidade instalada vezes o número de horas do ano. Hidroelétricas no mundo geralmente tem FC no entorno de 40%. As hidroelétricas brasileiras, por terem reservatórios, têm FC no entorno de 50%.

O que se pode perceber é que temos abusado das hidroelétricas. Não apenas na operação, mas também no tipo de expansão que fizemos nos últimos anos. Como deveria ser divulgado amplamente pelo governo, ao mesmo tempo em que não se constrói novas usinas com reservatório, o parque térmico foi expandido com muitas usinas caras. Ora, essas usinas, justamente por serem caras, funcionam muito bem como um seguro. Mas, para não aumentar o custo e impactar a tarifa, essa expansão exige mais geração hidráulica.

O gráfico mostra uma repetição do que ocorreu em 2001. Depois do baque do racionamento, aos poucos, fomos aumentando a taxa de utilização das hidráulicas, confiando que “depois a água pinta”.

Para conhecer outros mitos, acesse:

http://ilumina.org.br/mitologia-do-setor-eletrico-brasileiro-serie-do-ilumina/

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