Chuvas em março vão atingir 67% da média e ONS vê risco maior de déficit no sistema – Valor 28/02/14

Comentário: Trecho da reportagem sobre uma reunião com executivos do mercado:

Comentário de um participante: “Fizeram uma macumba para desmontar o modelo, mas pegou mal”, disse um participante da reunião, que relatou ter saído com a convicção de que o cenário é “muito preocupante”.

Por que o comentário? Porque “Surpreendendo os agentes do setor houve um apelo oficial para que um tipo de cálculo do modelo não seja levado em consideração. A apresentação foi feita pelo diretor de planejamento do ONS, Francisco José Arteiro, e pela diretora do departamento de otimização energética do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), Maria Elvira Maceira.”

Essa “descrença” súbita no modelo é ainda mais preocupante porque ele é a base do sistema mercantil adotado no Brasil. Como acreditar num programa de computador que gera os cmo das fórmulas abaixo quando até os técnicos que participaram da construção dessa metodologia têm restrições?

Quem não for da área de planejamento do setor, não se assustem com as fórmulas. Ou melhor…..assuste-se, porque são elas que definem a Garantia Física de cada usina, nada a ver com a geração real. Essas grandezas é que determinam quanto cada usina pode vender. Se estiverem erradas por conta de cmo’s  sem credibilidade, também estão erradas. Essa é uma das razões do desequilíbrio do sistema.

O assunto será alvo de uma publicação da série MITOLOGIAS no site do ILUMINA.

Por Daniel Rittner | De Brasília

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) traçou ontem um cenário preocupante para o abastecimento de energia nos próximos meses. Em uma reunião com executivos do mercado, fez uma previsão de hidrologia desfavorável em março, agravando a perspectiva dos reservatórios e aumentando as especulações em torno da necessidade de racionamento. No mês que se inicia amanhã, as chuvas devem atingir 67% da média histórica, nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. No Nordeste, a estimativa é que fiquem em apenas 32%.

Em fevereiro, o quadro já foi desolador: o Nordeste teve a pior afluência desde 1931. No subsistema Sudeste/Centro-Oeste, foi o segundo pior registro para meses de fevereiro na série de 84 anos.

Ao divulgar esses números, em conversa com executivos, o ONS gerou apreensão na plateia. E deixou o temor mais forte, durante reunião em que expõe preliminarmente sua estratégia de operação em março, quando calculou exatamente os riscos de déficit de energia ao longo do ano.

Para o ONS, há 71% de chances que falte pelo menos um megawatt no sistema interligado em 2014. Há exatamente um mês, quando convocou o mercado para falar sobre a operação de fevereiro, esse risco foi calculado em 20%. Desequilíbrios tão pequenos entre oferta e demanda não geram a necessidade de racionamento ou de medidas drásticas de contenção do consumo.

Em casos assim, segundo engenheiros com ampla experiência na operação do sistema elétrico, é possível administrar de forma “suja” a demanda. Isso significa, por exemplo, baixar a tensão da rede. As lâmpadas podem acender com voltagem menor, computadores apresentam pequenas falhas, a indústria eletrointensiva pode sofrer “apaguinhos” de milésimos de segundo.

Tudo isso é capaz de evitar cortes seletivos de energia, mas é uma evidência de que o sistema como um todo opera à beira do limite. Quando há um déficit de até 3% da carga total, medidas como essas ainda podem salvar o país de um racionamento.

A preocupação realmente tornou-se grande quando o ONS calculou o risco de um déficit de até 5% da carga total. Com esse desequilíbrio entre oferta e demanda, segundo especialistas, já não se pode evitar medidas para reduzir o consumo. Não significa que não haja hidrelétricas suficientes para atender à demanda, mas que elas talvez não possam produzir a todo vapor porque estão com seus reservatórios vazios. O operador indicou que esse risco hoje está em 24,5%. Há um mês, era de 5,9% – o sistema foi desenhado para um risco de, no máximo, 5%.

Esse cálculo é feito com base nos modelos matemáticos e computacionais do ONS. Programas como o Newave e o Decomp determinam quais usinas – térmicas e hidrelétricas – devem ser ligadas ou não, obedecendo a uma ordem de custo para gerar energia. Os mesmos modelos indicam o risco de que não haja mais megawatts para produzir.

Surpreendendo os agentes do setor, entretanto, houve um apelo oficial para que esse tipo de cálculo não seja levado em consideração. A apresentação foi feita pelo diretor de planejamento do ONS, Francisco José Arteiro, e pela diretora do departamento de otimização energética do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), Maria Elvira Maceira.

Ambos defenderam que a “tendência hidrológica” verificada nos últimos meses – chuvas muito abaixo da média histórica – não seja levada em conta para o restante do ano. Esse seria um defeito dos modelos de computador, segundo Arteiro e Maria Elvira, que deve ser excluído dos cálculos. O “correto”, afirmaram à plateia, é trabalhar com um risco de déficit de 2% neste ano.

A brutal diferença de números foi encarada com desconfiança – e até descrença – pelos especialistas, que viram um esforço do ONS para atenuar o receio do mercado quanto à possibilidade de racionamento. “Fizeram uma macumba para desmontar o modelo, mas pegou mal”, disse um participante da reunião, que relatou ter saído com a convicção de que o cenário é “muito preocupante”.

 

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