O Aproveitamento da Energia Solar para a Geração Elétrica

Pietro Erber (*)

Entendo que o aproveitamento da energia solar para a geração elétrica seja fundamental para a sustentabilidade da oferta de energia elétrica nas próximas décadas. Sua expansão não deve sofrer entraves mas tampouco pode-se prejudicar a competitividade de outras fontes ao se transferir custos inerentes a esta fonte para outros agentes. 

A energia de origem solar (basicamente fotovoltáica)  permite reduzir o deplecionamento de reservatórios de hidrelétricas e o consumo de combustíveis destinado à geração termelétrica. 

Enquanto fonte de geração distribuída, a energia solar, seja de propriedade de consumidores, seja das próprias distribuidoras (que no Brasil não é permitida) enseja redução de consumo de energia do sistema interligado e de perdas nas redes de transmissão e de distribuição. Mas não dispensa os investimentos em transmissão e distribuição, mesmo que ocorra no horário de ponta local, pois essa fonte é intermitente, pode sofrer fortes reduções por nebulosidade, duradoura ou transitória durante as horas do dia. Portanto, carece de back up da rede local. 

A questão do eventual prejuízo aos consumidores “sem placa solar” ocorre apenas na baixa tensão, onde a tarifa é monômia, porém resultante da soma de duas parcelas, uma relacionada ao custo da energia e outra aos custos fixos das redes. Este último é calculado considerando determinado fator de carga típico de cada tipo de consumidor. Se este passa a consumir menos, sendo ou não conectado à rede, parte da receita prevista deixa de ser recebida daquele consumidor e, para que se mantenha a remuneração contratual da distribuidora, tal redução tem de ser compensada pelo aumento da tarifa cobrada aos demais consumidores. Isto justifica uma cobrança mínima. 

No caso dos geradores solares (ou de outras fontes distribuídas)  conectados às redes e que podem vender geração excedente à distribuidora local criou-se o chamado “net metering” pelo o consumidor (no caso, o “prosumidor”) paga ( ou recebe) em função da diferença entre a energia recebida e a fornecida. O erro é valorizar a energia fornecida à rede pelo valor da tarifa paga pelo consumidor à distribuidora. Esta vai deixar de comprar energia das geradoras (se seu contrato o permitir) mas, além de não poder reduzir seus custos fixos nas redes, vai pagar ao gerador o componente da tarifa que corresponde  a este custo, na medida em que receba energia. Se um consumidor recebe tanto quanto fornece à rede, não pagará nada, mas a rede foi usada tanto num sentido quanto no outro. Dessa forma o “net metering” é um procedimento válido, mas precisa reconhecer a natureza dos custos de cada agente e como são refletidos nas tarifas.

Ainda observo que seria do interesse do desenvolvimento da geração solar e das distribuidoras se estas pudessem participar desse processo, construindo e operando essas instalações, além de investir em sistemas de acumulação de energia para compensar a variabilidade da oferta dessas fontes.  

 

(*) Engenheiro eletricista e diretor do INEE 

 

 

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