Bandeiras tarifárias deverão estrear com custo máximo em janeiro – O GLOBO

Comentário: O sistema de bandeiras tarifárias brasileiras, além de ser uma confissão de fracasso na gestão (*) do sistema hidrotérmico, terá efeito quase nulo sobre a demanda de energia. O governo brasileiro está confundindo sinais econômicos de curto prazo com política de operação de grandes reservatórios, obrigatoriamente de longo prazo.

Ninguém contesta que a demanda de energia elétrica tem uma elasticidade com o preço, mas é preciso refletir qual o prazo que um consumo pode ser deslocado. O consumidor brasileiro vai começar o ano de 2015 pagando mais R$ 30/MWh. Se a parcela de energia estava custando R$ 150/MWh, isso é um aumento de 20%! Não adianta disfarçar fazendo a conta por cada 100 kWh.

Não se trata de desperdício, porque, com a tarifa atual, nenhum consumidor residencial com apertos orçamentários deve estar jogando energia fora. Muito menos a indústria. Aliás, desperdício de energia e baixa eficiência de equipamentos deveriam ser uma política séria do setor. Qualquer eletricista sabe que, na confusão dos postes das nossas cidades, “escorrem” kWh perdidos. Recentemente alguns analistas recomendam desligar equipamentos do “standby” esquecendo que, num país de clima úmido, esse sistema previne oxidação. Ao invés de obrigar o cidadão a desligar, o governo deveria fiscalizar a produção de equipamentos eletrônicos com óbvios erros de dimensionamento, onde é possível perceber que os eles esquentam absurdamente.

Não adianta o cidadão “conversar” com sua geladeira ou ar condicionado (se houver) e pedir para que esses eletrodomésticos sejam “compreensíveis” por 3 ou 4 meses. Ele não poderá adiar os seus usos mais intensivos pelo prazo que o governo quer como recuperação dos reservatórios que estão vazios por erros de gestão.

A desejada redução de demanda já está ocorrendo com a indústria fechando fábricas para vender energia a preços milionários. A redução também já está ocorrendo pelo pífio desempenho da economia.

Assim como as bandeiras podem não ser suficientes, elas também podem superestimar o custo extra de térmicas, o que, na prática, significaria implantar o kWh pré-pago no Brasil. 

Enfim, a bandeira é um pedido de socorro desesperado de alguém que perdeu a noção de como se gere um sistema como o brasileiro.

(*) A gestão inclui o planejamento e a expansão do sistema.


 

POR DANILO FARIELLO

17/12/2014

BRASÍLIA – O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, considerou nesta quarta-feira ser “muito provável” que, em janeiro, as contas de luz já tenham um acréscimo de R$ 3 para cada 100 quilowatts-hora (kWh), decorrente do novo sistema de bandeiras tarifárias, em razão da situação dos reservatórios. Na região da Light, no Rio, essa mudança deverá resultar em 6% de aumento nas tarifas. Esse adicional reflete o custo extra pelo uso das usinas térmicas. Com a falta das chuvas neste ano, todas as regiões estão com bandeira vermelha em dezembro, o que deve continuar em janeiro, primeiro mês de cobrança efetiva das tarifas pelo novo sistema.

Em 2014, as bandeiras funcionaram só para testes, sem custos para os consumidores. A bandeira ficou vermelha em todo o país durante todo o ano, exceto no submercado Sul em julho. Essa realidade refletiu a falta de chuvas e, por consequência, o baixo acúmulo de água nos reservatórios das hidrelétricas.

A partir de janeiro, em caso de bandeira amarela, que indique custo intermediário de geração, o valor extra cobrado nas tarifas será de R$ 1,50. Em caso de muita água nos reservatórios, a bandeira será verde, sem cobrança a mais. O sistema funciona, portanto, como sinais de trânsito, para que os consumidores sejam estimulados a economizar os gastos de energia quando o custo de geração for mais elevado.

— É mais provável que seja bandeira vermelha em janeiro, porque o regime hidrológico tem sido melhor nos últimos dias, mas tem aquela demora entre a chuva e isso se transformar em água no reservatório. Então ainda não é um sinal muito favorável, mas é apenas uma expectativa — disse Rufino.

André Pepitone, diretor da Aneel, explica que a cobrança da bandeira tarifária não significará, na prática, custos mais elevados para os consumidores na conta de luz na média anual. A cobrança da bandeira no mês em que houver sinalização amarela ou vermelha significará uma antecipação financeira às distribuidoras, que já ocorreriam na ocasião da determinação do reajuste tarifário anual.

 

 

 

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