Mas,… o que propõem esses senhores ?

Nem é preciso muito estudo para analisar a questão sob outro ponto de vista. Antes do racionamento, vergonhoso fenômeno gestado pelo modelo incompleto que esses dois senhores insistem em defender, o país consumia algo no entorno de 320 TWh. Vinhamos acrescentando 15TWh novo a cada ano, o que exige aproximadamente 3.5 GW de usinas novas por ano. Em pleno período do laissez-faire mercantil o setor privado, mesmo com as estatais estando demãos amarradas, não investiram o suficiente. Como o nosso sistema hidráulico é composto principalmente de reserva, tem muita facilidade de esconder crises. Apesar da ajuda de S. Pedro, foi-se consumindo a reserva e adiando o inevitável racionamento. Todos sabiam da eminente crise, mas muitos permaneceram calados ou ficavam dizendo que era preciso privatizar mais, como se a simples troca do dono do ativo pudesse operar milagres gerando mais kWh’s. Ai veio o desânimo de S. Pedro! Um só ano de seca moderada. Resultado: Menos 25% compulsórios no consumo.


Mas a responsabilidade e a gênese do racionamento não é a questão aqui! É o que veio depois! O mercado cai aproximadamente 20% e assim permanece depois de 2001. A diferença de consumo entre o que se esperava antes da crise e o que ocorreu efetivamente até agora, multiplicada pela tarifa média, resulta em um impressionante sumiço de aproximadamente US$ 6 bilhões da receita do setor. Para uma idústria que faturava US$ 18 bi, impostos excluídos, é um tremendo baque! O que é ridículo é que esses senhores não citam essa evaporação da receita esperada como um fator explicativo no desânimo dos investidores. Para eles é só o modelo, só o modelo, só o modelo…


Mas não é só isso. Toda vez que eles citam investimentos privados no setor de energia após 95, muito sutil e convenientemente, se incluem os gastos nas aquisições de empresas, surgindo um número impressionante. Ora, não se quer desqualificar os investidores que vieram para o Brasil, mas vamos parar de misturar INVESTIMENTO com troca de titularidade de empresas existentes. Além disso, quando citam que o setor privado investiu, não dizem por quanto saiu a energia que eles vendem. Quem quiser que consulte as revisões tarifárias das distribuidoras para se espantar com contratos de até US$ 50/MWh!


É como vivemos dizendo: Por esse preço, o estado organizado faz melhor!


Para completar, a mentalidade colonizada ainda dá trela a um estudo do banco Morgan Stanley que fez a barbeiragem de comparar o Nord Pool com o que se está propondo para o Brasil. Além do sistema nórdico não ter muita similaridade com o caso brasileiro, pois lá não há a mesma participação de hidroelétricas, nem o sistema de reserva que prevalesce aqui, o Morgan faz comparação de preços spot para dizer que adoção de um pool pode dobrar a tarifa. Puro nonsense! Como se sabe, o sistema brasileiro é de tal ordem único no mundo que se pode afirmar que o preço de curto prazo é indicador de coisa nenhuma. Com o beneplácito de S. Pedro pode-se ter spots baixos apesar do sistema não ter investimentos. Aliás, foi o que ocorreu até 99 no Brasil. Para dizer a verdade, o Morgan deveria ter dito que sua previsão de volatilidade se aplica ao modelo mercantil pois a nossa operação nada mais é do que um Tight Pool! Por isso se está propondo desmontar a armadilha do MAE.


Afinal, depois de tanto estrago, o que propõem esses senhores?





De volta, o risco de racionamento (Globo22/02/04)
Ramona Ordoñez

O risco de um novo racionamento de energia elétrica volta a rondar o país. Analistas e empresários prevêem que o novo modelo para o setor não vai garantir os R$ 20 bilhões em investimentos anuais, estimados como necessários, para aumentar a oferta de energia e acompanhar o ritmo de crescimento da economia. O resultado é que o país, segundo eles, corre sérios riscos de sofrer um novo apagão em 2007, a exemplo do que aconteceu em 2001.


O especialista em energia Adriano Pires Rodrigues, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), diz que o racionamento só não deverá acontecer se a economia brasileira crescer apenas em torno de 2% ao ano até 2007. Essa taxa está muito abaixo do que espera o governo. Para este ano, por exemplo, a estimativa oficial é de que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 3,5%.


Novo modelo não atrai investimentos


O presidente do CBIE, Cláudio Salles, diz que as mudanças previstas no novo modelo do setor elétrico – que terá suas medidas provisórias (MPs) 144 e 145 votadas no Senado a partir do próximo dia 2 de março – não estimulam os investimentos privados indispensáveis para o atendimento da demanda futura de energia. Salles afirma que pelos estudos feitos, 55% dos R$ 20 bilhões, ou seja, R$ 11 bilhões, terão que ser injetados pelo setor privado.


– É claro que não haverá investimentos privados se o novo modelo mantiver algumas condições que prejudicam as empresas que já estão no país e que vieram, na época da privatização, para ficar no país por muitos anos – afirmou Salles.


Segundo o estudo de Pires Rodrigues, se o país voltar a crescer a taxas entre 4% e 4,8% ao ano, é grande o risco de faltar energia em 2007. Nesse caso, a diferença entre o consumo e a oferta de energia será em torno de 43 TWh (terawatt/hora, medida de energia que significa um milhão de megawatts/hora). Ou seja, o déficit será equivalente a quase metade do consumo do estado de São Paulo.


– A curto prazo, o novo modelo não afeta a vida do consumidor. Mas, a médio prazo, o consumidor corre o risco de ficar sem energia porque as regras previstas não atraem os investimentos privados – diz Pires Rodrigues.


Pelo estudo do CBIE, somente na hipótese de o país não crescer é que não haverá riscos na oferta de energia. O especialista acentua que o estudo levou em consideração o aumento de oferta de energia com projetos já aprovados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que têm licenças ambientais e financiamentos aprovados.


Para o especialista, o tempo é curto para serem iniciados projetos que possam entrar em operação antes de 2007. E a idéia do governo, de que esses investimentos poderão ser feitos em sua maioria pelo setor estatal, está equivocada, segundo o especialista.


– Não vejo qualquer indicação concreta de que vai haver investimentos privados. Ao contrário, a lógica do modelo da ministra (de Minas e Energia, Dilma Rousseff) é reeditar um novo ciclo de investimentos públicos. Só que não há recursos públicos suficientes para atender a uma demanda de crescimento da economia de 3,5% a 4% ao ano – diz Pires Rodrigues.


Empresas querem mudar MP


Nas regras para o setor previstas na MP 144 constam algumas questões que preocupam os investidores, segundo Cláudio Salles. Uma delas refere-se à separação que o novo modelo introduz entre a chamada energia velha (das usinas existentes) e a energia nova (de usinas construídas de 2003 em diante). O problema, segundo Salles, é que as empresas que investiram nos últimos anos no setor terão sua energia classificada como velha, e portanto, vendida a um preço inferior à energia nova, com custo maior.






A longo prazo, tarifaspodem subir (Globo22/02/04)

A proposta do governo que consta do novo modelo do setor elétrico – de separar a energia velha (gerada pelas usinas existentes) da energia nova (que será gerada por novos projetos) – vai provocar a longo prazo, aumento de tarifas, diz David Souccar, especialista em energia do banco americano Morgan Stanley. Ele é um dos autores do estudo feito pela instituição que mostra que as tarifas da energia nova terão aumentos de até 50%, passando de US$ 20 (R$ 60) o megawatt/hora (MWh) para US$ 30 (R$ 90). Segundo Souccar, isso vai significar um aumento entre 20% e 25% nas tarifas finais para os consumidores.


Esse aumento só vai acontecer a longo prazo, a partir de 2009, quando está prevista a entrada no mercado de novos projetos de usinas.


– A curto prazo, o novo modelo não vai afetar as tarifas porque a maior parte da energia consumida é a velha. Num primeiro momento, quando a energia nova começar a entrar no sistema, acredito que o impacto nas tarifas será da ordem de 2% – disse Souccar, acrescentando que esse impacto aumenta no futuro.


Segundo o especialista, mesmo depois de juntar os preços da energia velha com os da nova, não deverá haver aumentos menores para os consumidores. Isso porque, com o passar do tempo, quanto maior for o volume da chamada energia nova, maiores serão os impactos nas tarifas.


Os empresários concordam que essa divisão entre energia velha e nova, prevista no novo modelo, vai resultar em aumentos nas tarifas dos consumidores. Um dos relatores da medida provisória do novo modelo, o senador Delcídio Gomes (PT-MS) acredita que serão feitas mudanças para evitar esse aumento de tarifas.

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