Roberto Pereira D’Araujo
Depois da declaração do presidente da república de que o Brasil “pode dar lições à Alemanha na área de meio ambiente”, é preciso mostrar alguns fatos e dados.
Há cerca de 10 anos, se nos deparássemos com o texto abaixo, certamente alguém imaginaria ser do Greenpeace ou do “World Wildlife Fund”. Hoje, esse texto é facilmente lido no World Energy Council ou na International Energy Agency.
As atuais tendências de consumo energético são insustentáveis sob o ponto de vista ambiental, social ou econômico. (!)
A maioria das emissões de gases de efeito estufa no mundo vem de um número relativamente pequeno de países. A China, os Estados Unidos e as nações que compõem a União Européia são os três maiores emissores em termos absolutos. As emissões de gases de efeito “estufa” per capita são mais altas nos Estados Unidos e na Rússia.
Petróleo continuará a ser a principal fonte energética, mas…
Termina a chamada “era do petróleo”.
Geopolítica poderá exigir alterações das políticas nacionais e provável mudança do papel do petróleo.
Para confirmar essa transformação na questão ambiental, vejam o texto a seguir:
“O fundo soberano da Noruega, o maior do mundo e sustentado com petrodólares, vai abandonar as empresas de petróleo para reduzir a exposição do país escandinavo ao combustível, anunciou o governo norueguês.”
“O objetivo é reduzir a vulnerabilidade de nossa riqueza comum ante um retrocesso permanente dos preços do petróleo”, afirmou a ministra das Finanças, Siv Jensen, em um comunicado.” (Revista EXAME (8/03/19))
Portanto, a humanidade está perante algo que coloca todo o seu futuro num dilema inédito. Pela primeira vez, temos que perceber que estamos todos no mesmo barco. “Competições” para ver quem mais suja o planeta, beiram o ridículo.
Para se ter uma ideia da gravidade do tema, vejam o gráfico abaixo.
No eixo vertical está o consumo de energia total do planeta e no horizontal a emissão total de CO2 relacionada à energia.
O tamanho do círculo mostra a dimensão da economia mundial.
O que o gráfico exibe é que, sob o cenário de não se controlar as emissões, em 2040 estaríamos emitindo 42,5 milhões de toneladas de CO2. Circulo vermelho. Atuando sob essas emissões segundo a atual política proposta, chegaríamos a 2040 com 36 milhões de toneladas. Circulo Amarelo. Mas, para haver um desenvolvimento sustentável que evite o aquecimento global, precisaríamos reduzir a emissão a apenas 17,5 milhões de toneladas de CO2, praticamente a metade do valor de 2017. Círculo Verde.
E como está o Brasil nesse esforço?
É possível perceber que em termos médios totais, o Brasil não é um dos mais poluentes.
Mas, quando se compara a emissão por US$ de PIB, o Brasil é 5º colocado, logo abaixo da India e numa lista onde a Alemanha não aparece.
Como a emissão de CO2 está fortemente associada à energia, é bom lembrar que ainda consumimos proporcionalmente mais petróleo e derivados do que a média mundial.
Além disso, vejam abaixo:
Enquanto o mundo como um todo reduz a energia necessária para produzir um US$ de PIB, o Brasil patina e até aumenta o uso de energia para produzir o mesmo US$. Esse é o Brasil na contramão da eficiência crescente do mundo.
Mesmo na eletricidade, onde o Brasil foi premiado com recursos fluviais excepcionais, no futuro recente, por falta de planejamento e atraso na revolução das eólicas e fotovoltaicas, cometemos a surpreendente tolice de triplicar nossa capacidade térmica. Ver abaixo.
Portanto, caso se insista no discurso competitivo, em meio ambiente, o Brasil deveria ficar calado e tratar de olhar sua casa.
O que é o World Energy Council? Formado em 1923, o Conselho é o órgão global de energia credenciado pela ONU, representando todo o espectro de energia, com mais de 3000 organizações membros localizadas em mais de 90 países e provenientes de governos, corporações privadas e estatais, universidades, ONGs e partes interessadas relacionadas à energia.