Ronaldo Bicalho (*)
Me contam que a Eletrobras mudou de nome. Agora tem um desses nomes que as consultorias cobram uma grana preta pra criar e não significam coisa alguma.
Não mudou de nome para deixar pra trás o peso dos compromissos do passado estatal, mas pra aproveitar os descompromissados ganhos privados do presente.
Abandonou o peso dos compromissos pra assumir a leveza do não tô nem aí. E se a farinha é pouca, o meu pirão primeiro.
Deixou o nome honrado do passado pra cair na vida.
Melhor assim.
Dessa maneira não envergonha os homens e mulheres que ao longo de uma história honrada construíram uma empresa que trouxe energia e desenvolvimento para o país.
Dessa maneira mantem-se a reputação desses homens e mulheres. Não precisam se envergonhar pelo que se transformou a companhia.
Do motor de desenvolvimento a uma empresa de telemarketing que vende energia.
Da construção de novas centrais e linhas de transmissão ao uso intensivo daquilo que outros construíram.
Do compromisso com a construção da riqueza no futuro ao descompromisso da dilapidação da riqueza que veio do passado.
Da luta contra a escuridão ao desfrute dos ganhos advindos da escuridão precificada.
Do enfrentamento da escassez de energia que gera o atraso à locupletação da escassez de energia que gera valor.
A tigrada do mercado urra e se refastela.
É tosca.
Melhor assim.
Preserva-se a compostura do passado diante da descompostura do presente.
Preserva-se o respeito daqueles que se davam ao respeito diante daqueles que hoje vendem e alugam esse respeito.
Preserva-se a dignidade daqueles que pensavam o país diante daqueles que se locupletam com o país.
Preserva-se a coragem daqueles que sonhavam com o futuro diante daqueles que destroem esse futuro.
Então melhor assim.
O que está aí não tem nada a ver com a velha Eletrobras.
É um braço que nem um pedaço do meu pode ser.
É um nome vazio. Não tem passado. Não tem futuro.
É só mais uma tacada. Uma forma de espoliar o país e a sua gente.
Vão chupar até a última gota e jogar o bagaço fora.
Mas o país é maior do que isso. Nós somos maiores do que isso.
Essa mediocridade vai passar e a gente vai se reencontrar com a nossa história.
A Eletrobras morreu. Vida longa a Eletrobras.
(*) Diretor do Instituto Ilumina, Pesquisador do Instituto de Economia da UFRJ e apresentador do programa Curto-Circuito no Canal do Instituto de Economia da UFRJ (https://www.youtube.com/@CanalCurto-Circuito)
Obs: Esse texto foi inspirado na entrevista do Ex-presidente da Eletrobras José Luiz Alquéres ao Valor Econômico (https://share.google/1gMDJmtDZrJMdY3cs)
7 respostas
estes picaretas, com a velha narrativa de enganar bobos, eficiência, giro, os cambau, tudo balela, estes abutres, vampiros da nação, querem espoliar o pais, sim, somos maiores que estes pilantras, eles tem o congresso, pequena parte dos ex gerentes, algumas “cabeças” no judiciario, não obstante venceremos, a custa de sofrimento, sangue e suor, mas esta a linha condutora da nossa historia, da luta da classe trabalhadora logo ali, havera lamentos, a platina, com cara de tristeza, anunciado as tragédias, as consequências, sem observar que é causa da privatização, esta merda tem o mesmo resultado no mundo inteiro, mas a peso de suborno conseguem avançar com uma bandeira taõ nefasta e cara ao povo, aqui e em qualquer parte do mundo, lutaremos.
Carrego em minha carreira de eletricitários, o orgulho de ter trabalhado na Eletrobras e logo que entrei na eletrosul, em 2011, quando comentava com os colegas sobre a empresa alguns me perguntavam se era empreiteira da Copel, o que não me espantava porque a Copel do passado também foi uma excelente empresa estatal de renome. Porém, jamais poderia imaginar que um dia fosse ter essa nítida sensação de estar trabalhando numa terceirizada Eletrobras, e sinto que todos os companheiros da ativa hoje compartilham dessa mesma sensação. Triste dizer, mas esse sentimento de decadência hoje se sobrepõe ao orgulho de ser eletricitário do passado.
Sônia tem história para contar quem faz, a minha FAMÍLIA,meu sogro aposentado de Furnas hoje com 95 anos foi motorista na construção de Furnas, o meu esposo trabalhou 35 anos hoje falecido por motivos de Saúde, mas o meu filho Nicola Prado concursado de Furnas ELETROBRÁS trabalha atualmente como técnico em mecânica e eletrotécnica ,também ja tem a graduação de Engenheiro Mecanico graças à Deus.
Tem orgulho de dizer da sua dedicação, responsabilidade com o Trabalho para que tudo se realiza com Sucesso ,onde não mede esforços com funcionários reduzidos e o excesso de trabalho predomina.
Mas somos brasileiros e temos esperança de dias melhores ,a nossa História não se apagará.
Excelente texto, descreve o sentimento da maioria que trabalhou ou trabalha na ELETROBRAS. Agora parece que até Bitcoin querem minerar, considero desvio da função da empresa e certamente a ANEEL não dirá nada .
Quanto a nova marca, sim acredito que gastará uma grana preta, mas certamente utilizaram IA, seres normais não criariam isso.
Brasil recuando ao colonialismo, onde ganhar se sobrepõe ao fazer.
Genial!