Estranhos Tempos A pujança econômica da General Motors ultrapassa o PIB da Dinamarca. A Royal Ducch-Shell ultrapassa o Peru. A Siemens é maior do que a Venezuela. As 200 maiores corporações multinacion …

Estranhos Tempos


A pujança econômica da General Motors ultrapassa o PIB da Dinamarca. A Royal Ducch-Shell ultrapassa o Peru. A Siemens é maior do que a Venezuela. As 200 maiores corporações multinacionais já detêm aproximadamente 30% do Produto mundial. Apesar disso, só empregam 0,78% da força de trabalho. De 1983 até 1999 seus lucros subiram 324%. enquanto sua oferta de empregos aumentou apenas 14%. O desemprego, sub-emprego, a perda de poder econômico e os problemas sociais são absorvidos pelos Estados Nacionais, leia-se os cidadãos. Os protestos de Seattle, Davos e agora Genebra e Lausanne são sobre isso. Infelizmente, o mundo está mudando outra vez e o presidente Lula ainda está sincronizado com "a outra mudança". A mesma que levou todos os Estados latino Americanos dobrarem seus déficits públicos. Estranho esses tempos! Os governos, que deveriam proteger os interesses dos cidadãos, influenciados pelo poder econômico das grandes corporações, acabam por implantar políticas cujo objetivo é defender os interesses dos "acionistas". As reportagens abaixo trocam em miúdos, no mundo real, a mudança acima… Ou não?



Economista vê queda de 46% no rendimento


DA REPORTAGEM LOCAL

A queda no rendimento médio real dos ocupados caiu em média 46% nos últimos 18 anos, revelam os dados da pesquisa mensal do Dieese e da Fundação Seade.


"Em janeiro de 85, o salário era de R$ 1.664 [valor de janeiro de 2003 corrigido pelo ICV-Dieese] e passou, em janeiro deste ano, para R$ 885. Como pode haver variação de mês para mês, a queda média é de 46%", diz Anselmo Luis dos Santos, professor da Unicamp.


Segundo ele, se não houver investimentos em setores "intensivos" em mão-de-obra -como o da construção civil- e se o governo não reduzir o aperto fiscal, que inibiu investimentos públicos, não haverá recuperação da renda.


Dados da pesquisa mostram que o rendimento médio dos ocupados caiu 3,9% só em março, passando de R$ 892 para R$ 857. (CR) (Folha 30/05)


CLÓVIS ROSSI

Outro mundo é possível, Lula?


GENEBRA – Carlos Heitor Cony lembrou ontem, dois andares abaixo na página, mil acima na qualidade, que a frase do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo a qual "o mundo mudou, não eu", também foi usada por Fernando Henrique Cardoso, com variação semântica.


De minha parte, lembro que, no dia seguinte ao afastamento de Fernando Collor da Presidência, em 1992, estava de plantão na casa então ocupada por Itamar Franco, já presidente interino. Havia uma preocupação, em alguns setores, com uma suposta inclinação estatizante de Itamar.


Foi o tema da única pergunta que consegui fazer a ele. Resposta? Você já adivinhou: "O mundo mudou, eu também mudei".


Constatar que o mundo muda é constatar o óbvio. Mas era uma vez um partido e seu líder que, até o ano passado, participavam do enorme coro que dizia que "outro mundo é possível". O partido chamava-se PT, e o líder, Luiz Inácio Lula da Silva. Lembra-se de ambos?


Pois é. A turma do "outro mundo é possível" não mudou. Está marchando sobre Genebra e Lausanne, as duas cidades grandes suíças mais próximas de Evian, na França, que será a sede da cúpula do G8 e da reunião do chamado "diálogo ampliado", entre os sete ricos mais a Rússia e os 12 pobres mais a Suíça como co-anfitriã. Afinal, Lausanne faz divisa com Evian, separadas apenas pelo lago Leman, que, na primavera, é ainda mais encantador.


Como o mundo de Lula mudou, ele nem poderá ouvir os gritos dos velhos sócios, porque estará do lado protegido da impressionante barreira policial montada em toda a região, dos dois lados da fronteira (e do lago), para impedir qualquer mínimo contratempo para os governantes.


Pena. Está na hora de o presidente brasileiro decidir de uma boa vez se o mundo mudou para melhor e, por isso, ele resolveu pegar uma carona no status quo ou se ele continua acreditando, como até bem recentemente, que "outro mundo é possível".



Consumo das famílias tem 7ª queda seguida

MARCELO BILLI


DA REPORTAGEM LOCAL

Luana Mara Mancini da Silva, 38, secretária, costumava ir ao supermercado duas vezes por mês. Em cada uma delas, enchia dois carrinhos. Costumava, mas agora ela e a família, o marido e duas filhas, tiveram que se adaptar: reduziram o supermercado, deixaram de ir a restaurantes, desistiram do clube e da escola privada de uma das filhas.

Segundo o IBGE, esta é a situação média das famílias brasileiras. No primeiro trimestre deste ano, o consumo das famílias caiu 2,3%.


Segundo as estatísticas da instituição, o indicador apresentou o sétimo resultado negativo consecutivo na comparação do trimestre com o mesmo período do ano anterior. Foi o pior resultado desde a queda de 2,59% registrada no último trimestre de 2001.


Desde 2001, diz Luana, a família "faz mágica para chegar ao final do mês com dinheiro". Ela trabalha na empresa do marido, um pequeno escritório de contabilidade cuja sede é na própria casa da família. "Nosso salário não caiu. Mas todos os dias você ia ao supermercado e o arroz estava um pouco mais caro. Depois era o leite. Depois a luz. Eu tive que ir cortando, pois uma hora o dinheiro não ia ser suficiente."


Menos crédito

Uma das razões para a queda do consumo das famílias é a restrição ao crédito provocada, principalmente, pela alta das taxas de juros. Segundo Flávio Castelo Branco, da CNI, o aperto sobre os juros tem impacto direto sobre a produção de bens destinados ao mercado doméstico, justamente porque ele restringe o poder de compra das famílias.


O volume de crédito para pessoas físicas caiu 3,15% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Aliado à queda no poder aquisitivo dos salários e à alta do desemprego, a falta de crédito fez as famílias consumirem menos.


O consumo corresponde à maior parte do PIB brasileiro -como ocorre na maioria dos países. Nos EUA, foi a persistência dos consumidores, que não deixaram de gastar e se endividar, que, segundo economistas, evitou que o país entrasse em recessão depois da crise das Bolsas e dos ataques de 11 de setembro.


No Brasil, a sequência de desempenhos negativos provocou no ano passado a perda de peso relativo do consumo das famílias na composição do PIB. No fechamento de 2002, ele representava 59,3% do valor do PIB como um todo, contra 60,6% no final de 2001. Como a economia não encolheu nos últimos anos, apesar de ter crescido pouco, os produtos e bens antes consumidos aqui foram destinados ao mercado externo. Ou seja, os bons resultados da balança comercial brasileira dos últimos meses tiveram um preço: as famílias sofreram uma perda de conforto -no jargão dos economistas, uma perda de bem-estar.


Para fora

Na outra ponta, as exportações, favorecidas pela desvalorização do real em relação ao dólar norte-americano, tiveram seu peso relativo em relação ao PIB aumentado de 13,2% para 15,8% de um ano para o outro. Os dados de consumo e exportação fazem parte do chamado PIB pela ótica da demanda, que, na prática, é a soma do consumo das famílias com as exportações, o consumo do governo, os investimentos e os estoques, menos as importações.






SP vive seu maior desemprego desde 1985


CLAUDIA ROLLI

DA REPORTAGEM LOCAL

O desemprego bateu recorde histórico na região metropolitana de São Paulo e chegou ao maior nível desde 85, atingindo no mês passado 20,6% da população economicamente ativa (PEA).


Baixo crescimento econômico, juros altos e aperto nas contas do governo, com redução de gastos e de investimentos, explicam a piora no emprego, na avaliação de economistas e especialistas em mercado de trabalho.


Esses fatores, aliados ao fato de as taxas de desemprego estarem em patamares elevados desde 2002, já levam os analistas a considerarem 2003 um ano "perdido" para o emprego.

Com a elevação da taxa -que passou de 19,7% em março para 20,6% em abril-, Dieese e Fundação Seade, responsáveis pela pesquisa divulgada ontem, estimam que 1,94 milhão de pessoas estejam sem emprego na Grande São Paulo. Até então, os piores índices haviam sido registrados em abril de 2002 (20,4%) e em abril e maio de 99 (20,3%).


"Sem mudanças na atual política econômica, esse número [de desempregados] pode certamente chegar a 2 milhões no próximo mês", diz Anselmo Luis dos Santos, economista e pesquisador do Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho), da Unicamp. Ele estima que a taxa média de desemprego neste ano deverá ficar entre 20% e 21% -outro recorde, pois a maior média anual foi em 99, quando o desemprego atingiu 19,3%.


O aumento do desemprego em abril ocorreu mais devido à pressão pela procura por emprego do que por demissões efetuadas no período. Enquanto 129 mil pessoas buscaram vagas, apenas 19 mil postos foram abertos -na sua maior parte assalariados sem carteira assinada e autônomos.


"Normalmente nos meses de abril e de maio ocorre essa pressão. O problema é que há um descompasso entre o ritmo de criação de vagas e o de pessoas que voltam ao mercado", diz Sérgio Mendonça, coordenador técnico do Dieese. "Há três anos consecutivos enfrentamos baixo crescimento da economia, o que gera uma crise no nível de ocupação."

Para o coordenador, o crescimento do emprego na Grande São Paulo pode ser considerado "ridículo". Em relação a abril de 2002, foram abertas 56 mil vagas na região, enquanto 93 mil pessoas ingressaram no mercado.


Na avaliação do Dieese, mesmo se houver redução dos juros na próxima reunião do Copom (em junho), a situação do mercado de trabalho só deve melhorar no último trimestre do ano.


"A política do governo está caracterizada pelo combate à inflação, com política fiscal rígida, que dificulta a retomada do crescimento do país. E há uma defasagem entre o momento em que se reduz os juros até o impacto positivo no mercado de trabalho." Esse tempo, diz, pode variar de seis a nove meses.


Mais afetados

Pessoas entre 25 e 39 anos, mulheres e chefes de família foram os mais afetados pelo desemprego em abril, informa a pesquisa. No caso dos chefes de família, a taxa de desemprego no mês passado foi de 12,6% -a segunda maior desde 85, superada apenas pela taxa de maio de 99 (12,8%).

O comércio, setor afetado diretamente pela manutenção da politica de juros altos, fechou 49 mil vagas no mês passado. O setor de serviços, responsável por metade das vagas na Grande São Paulo, abriu 3.000 vagas -mesmo desempenho da indústria.

Como a renda está caindo desde 97, acumulando queda de 28,3%, o consumidor deixa de comprar, diz Mendonça, porque os juros são altos. "As pessoas têm medo de perder o emprego e deixam de comprar bens de maior valor, afetando diretamente o comércio."

Para Oiram Corrêa, gerente da assessoria econômica da Fecomercio-SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo), o desemprego deve se acentuar neste ano se os juros não baixarem já.

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