Quanto mais fio, melhor Além de não ser necessário, a separação da geração e da transmissão no sistema brasileiro é um grande furo conceitual. Nos sistemas térmicos, …

Quanto mais fio, melhor


Além de não ser necessário, a separação da geração e da transmissão no sistema brasileiro é um grande furo conceitual. Nos sistemas térmicos, dada a independência das fontes, a energia ofertada é formada na saida da usina. As linhas tem apenas o papel do transporte ao consumidor. No Brasil, fruto da enorme interdependência entre as usinas hidráulicas advinda das diversidades hídricas das bacias, a transmissão tem duplo papel; o tradicional, de levar a energia ao consumidor e o de participar da produção ao "relocar" água nos reservatórios do sistema. Desse modo, aqui, a energia se forma na barra de distribuição. A transmissão é parte integrante do complexo produtor. Ela faz esses serviços concomitantemente, e aparentemente, não há diferenças do nosso sistema para os sitemas térmicos. Mas a lógica aqui é muito mais energética do que elétrica. O dimensionamento e a maneira de expandir a rede está intimamente ligada à essa função. Qual é o sistema no mundo que ao se instalar mais fios se obtem mais energia?


Quando se pensa no papel integrador e de soma positiva que um sistema de transmissão continental pode fazer pela economia da América Latina, não dá para entender porque qualquer dos nossos países passam por crises energéticas.



Dilma diz que empresas elétricas federais não serão divididas


Segundo a ministra, não será necessário separar a geração e a transmissão de energia

GERUSA MARQUES e JOSÉ RAMOS




BRASÍLIA – A ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, disse ontem que as empresas elétricas federais não sofrerão processo de desverticalização, ou seja, não serão separadas em empresas de geração e transmissão de energia. "Não vamos fazer a cisão de nenhuma de nossas empresas públicas federais sobre as quais podemos decidir", disse ela na posse da nova diretoria da Eletronorte. Segundo ela, não há nenhuma obrigação de separar a geração da transmissão de energia no sentido de criar empresas com CNPJ diferentes.


"O que achamos é que não faz sentido ter duas empresas, até porque não há nenhuma legislação que sustente isso, nem resolução da Aneel, nem lei."


Dilma afirmou que o que será separado é a contabilidade. As empresas não poderão fazer a transferência de subsídios de uma para outra. No caso da compra de energia em um mesmo grupo, a ministra assegurou que a lei vigente será "absolutamente respeitada e a fiscalização será feita".


Ela disse que uma das prioridades da sua gestão à frente do ministério será de promover a integração de toda a Região Norte ao sistema interligado de energia elétrica. A interligação permitirá que a energia produzida na região possa ser levada para as demais regiões do País. "A única região que não está integrada ao sistema é a Amazônia Legal. Vamos olhar esse projeto com muito cuidado."


Segundo Dilma, outra questão que merece destaque é a necessidade de garantir o abastecimento na Região Norte. A ministra defendeu a parceria entre setores público e privado, que convirja para a expansão do sistema elétrico.


O novo presidente da Eletronorte é o engenheiro Silas Rondeau Cavalcanti Silva, que ocupava o cargo de presidente da Boa Vista Energia e, anteriormente, exerceu também a presidência da Manaus Energia e da Companhia Energética do Amazonas. (AE)




Eletronuclear quer negociar com a Aneel o aumento das tarifas

Cláudia Schüffner
, Do Rio


O físico Zieli Dutra Thomé Filho deixou a Coordenação de Programas de Pós-graduação de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para assumir a presidência da Eletrobrás Termonuclear (Eletronuclear) tendo entre as prioridades a construção da usina nuclear de Angra III – "Sou totalmente a favor", diz o novo executivo -, e a negociação com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para elevar a tarifa da energia gerada por Angra I e Angra II, que hoje custa R$ 63.


"Não sei porque o governo anterior, e isso não é uma crítica à direção anterior, deixou fixado esse valor de tarifa. Mas ocorre que ela se tornou deficitária. E você não pode operar uma central nuclear, aliás nenhuma usina, que ao invés de dar lucro dá prejuízo. No máximo, socialmente, tem que ser zero a zero", afirma Thomé Filho, ponderando por outro lado que grande parte do prejuízo deve-se à alta do dólar.


No balanço de 2001, a Eletronuclear contabilizava uma dívida em moeda estrangeira de US$ 525 milhões junto à sua controladora, a Eletrobrás. A ela somava-se uma dívida em moeda nacional de R$ 651,7 milhões, dos quais a Eletrobrás era credora de R$ 500 milhões.


Convertida para o câmbio de 31 de dezembro de 2001, a dívida total somava R$ 1,175 bilhão, enquanto a receita operacional líquida foi de R$ 681,2 milhões. O prejuízo no período atingiu R$ 155,5 milhões.


A diretoria anterior da Eletronuclear defendia um aumento da tarifa dos atuais R$ 63 para R$ 85, mas só depois da edição do decreto 4.550, de 27 de dezembro, o governo federal definiu que o interlocutor da Eletronuclear para assuntos relativos ao aumento de tarifa era a Aneel. O novo presidente da geradora lembra ainda que ela tem contrato firme para venda de 1.266 MW médios, sendo que os 225 MW médios restantes são vendidos no mercado atacadista, onde o preço está na faixa de R$ 4,00. "Isso não paga nem o combustível", ressalta Thomé.


Fontes do setor explicaram ao Valor que o decreto 4.550 "atropela" os termos negociados entre Furnas e a Eletronuclear para venda da energia de Angra I e II, que tem validade de 15 anos. Agora, as duas controladas da Eletrobrás terão que negociar.


Ao defender o aumento de tarifa, Zieli Thomé Filho, diz que é importante gerar energia elétrica de forma firme, estável e com segurança para a população, o meio ambiente e a própria usina.


Outra prioridade, que também foi apontada pelo novo presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa – um amigo de longa data de Thomé – é o início do processo de substituição dos geradores de vapor da usina Angra I, que já têm mais de 20 anos. O problema é que eles foram fabricados com material que se degrada e sofre corrosão sob tensão. E serão substituídos por equipamentos fabricados com material mais resistente.


Thomé quer iniciar logo a execução dos procedimentos para essa substituição, que custará caro. Com equipamentos e serviços, a troca dos geradores deve custar cerca de US$ 135 milhões. Entre a compra dos equipamentos, contratação dos serviços e a instalação estão previstos 40 meses, sendo que a usina terá que ficar desligada por alguns meses.



Nova diretoria planeja explorar turismo em Itaipu

Miriam Karam
, De Curitiba


Combater as desigualdades sociais da região e fomentar o turismo são as metas divulgadas ontem pelo novo diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Samek. Ele toma posse hoje, em Curitiba, na presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff.


Turismo, aliás, foi a palavra mais usada por Samek na coletiva de imprensa. A hidrelétrica, que produz 25% de toda a energia consumida no Brasil, está perto de completar seu projeto – as duas últimas turbinas, de um total de 20, entram em operação no próximo ano. Sem grandes investimentos pela frente e sem condições de desindexar a tarifa atrelada ao dólar, a nova direção quer integrar-se ao projeto social do governo como forma de colaborar com o presidente Lula.


"Queremos dar um choque de perspectiva", diz Samek, que pretende usar a influência e o poder da empresa binacional para "fomentar o desenvolvimento da região (Oeste do Paraná) como um todo, aproveitando seu potencial turístico e ambiental".


Samek, petista que renunciou ao mandato de deputado federal para assumir a direção de Itaipu, reafirmou que pouco pode ser feito para diminuir a tarifa da energia que produz, cotada em dólar – a principal queixa do mercado. "A forma de baratear a energia é uma só, justamente o que o ministro (da Fazenda) Palocci vem fazendo " , diz. Ou seja, aumentar a credibilidade do país, fazendo cair a cotação da moeda americana.


O problema é que os contratos de financiamento de Itaipu – dívida que só termina em 2023 – são em dólar e a empresa pretende honrá-los sem exceção.


Para este ano, o orçamento da hidrelétrica prevê US$ 287 milhões para serem distribuídos como royalties e US$ 248 milhões para custeio, pessoal e contingências. É desta parcela que devem sair os recursos para parcerias e ações sociais para "erradicar a fome e o analfabetismo", como quer o novo diretor-geral.


A estes recursos se somarão outros a serem gerados pela cobrança de entrada para visitantes da hidrelétrica. No ano passado, eles chegaram a 500 mil pessoas.


Com Samek, assumem a petista Gleisi Hoffmann, que participou da equipe de transição de Lula, no cargo de diretora financeira; o deputado federal Rubens Bueno, candidato do PPS derrotado ao governo do Paraná, como diretor administrativo; e o presidente estadual do PDT, Nelton Friedrich, que liderou o movimento contra a privatização da Copel, que será diretor de coordenação.


Os atuais diretor técnico executivo, Antonio Otélo Cardoso, e o diretor jurídico, João Bonifácio Cabral Júnior, permanecem nos cargos. O candidato derrotado do PT ao Senado pelo Paraná, Edésio Passos, e João Vaccari Neto, da executiva nacional da CUT, assumem postos no conselho de administração.


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *